quarta-feira, 11 de março de 2009

Sigamos o exemplo...

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Eu havia sugerido no post anterior que a Igreja Católica me excomungasse. Duas vezes. Uma por ter nascido judeu e outra por ser "pró-mulher", ou seja, apoiar a idéia de que o aborto é uma decisão da mulher (a qual, claro, pode se assessorar com o pai da criatura, o médico, o inspetor de polícia, etc). Não é, portanto, uma questão moral. O Renato foi mais longe e pediu sua excomunhão diretamente ao mais famoso, mas por motivos nada invejáveis, bispo brasileiro. Famoso por ter perdido uma grande chance de se fingir de morto e deixar passar batido mais um lance do nosso mundo cão. Se alguém souber de um modo de ser excomungado sem nunca ter comungado, por favor, eu gostaria de saber. Talvez eu devesse escrever para o tal bispo perguntando...

17 comentários:

Anônimo disse...

A EXCOMUNHÃO DA VÍTIMA

Miguezim de Princesa


I
Peço à musa do improviso
Que me dê inspiração,
Ciência e sabedoria,
Inteligência e razão,
Peço que Deus que me proteja
Para falar de uma igreja
Que comete aberração.

II
Pelas fogueiras que arderam
No tempo da Inquisição,
Pelas mulheres queimadas
Sem apelo ou compaixão,
Pensava que o Vaticano
Tinha mudado de plano,
Abolido a excomunhão.

III
Mas o bispo Dom José,
Um homem conservador,
Tratou com impiedade
A vítima de um estuprador,
Massacrada e abusada,
Sofrida e violentada,
Sem futuro e sem amor.

IV
Depois que houve o estupro,
A menina engravidou.
Ela só tem nove anos,
A Justiça autorizou
Que a criança abortasse
Antes que a vida brotasse
Um fruto do desamor.

V
O aborto, já previsto
Na nossa legislação,
Teve o apoio declarado
Do ministro Temporão,
Que é médico bom e zeloso,
E mostrou ser corajoso
Ao enfrentar a questão.

VI
Além de excomungar
O ministro Temporão,
Dom José excomungou
Da menina, sem razão,
A mãe, a vó e a tia
E se brincar puniria
Até a quarta geração.

VII
É esquisito que a igreja,
Que tanto prega o perdão,
Resolva excomungar médicos
Que cumpriram sua missão
E num beco sem saída
Livraram uma pobre vida
Do fel da desilusão.

VIII
Mas o mundo está virado
E cheio de desatinos:
Missa virou presepada,
Tem dança até do pepino,
Padre que usa bermuda,
Deixando mulher buchuda
E bolindo com os meninos.

IX
Milhões morrendo de Aids:
É grande a devastação,
Mas a igreja acha bom
Furunfar sem proteção
E o padre prega na missa
Que camisinha na lingüiça
É uma coisa do Cão.

X
E esta quem me contou
Foi Lima do Camarão:
Dom José excomungou
A equipe de plantão,
A família da menina
E o ministro Temporão,
Mas para o estuprador,
Que por certo perdoou,
O arcebispo reservou
A vaga de sacristão.

Dra. Manhattan disse...

Na antiga STR circulava um formulário para pedir a excomunhão à Igreja Católica. Acho que é este: http://clubecetico.org/forum/index.php/topic,17057.msg346398.html#msg346398

Roberto Moschen Jr disse...

Seria interessante informar os passos para se obter uma excomunhão. Sei que uma forma é entregar uma carta com o pedido na própria paróquia onde se for batizado.

Jorge Quillfeldt disse...

EXCOMUNHÃO: FAÇA VOCÊ MESMO!

Há um excelente modelo de carta de solicitação de excomunhão que pode ser encontrado no 'çáitchi' Genismo,
ou, mais diretamente,
aqui
.

A carta cita a "legislação" católica em Latim e fundamenta os termos pelo qual se solicita o "desbatismo", não ficando apenas no tema do aborto. Pessoalmente eu acho bobagem querer receber procedimento simbólico que é tão ridículo quanto as demais ridículas crenças que o sustentam. É inócuo, mas é claro que, no presente embate, é bastante divertido.

A carta precisa de alguma edição, mas é muito boa. Divirtam-se!

Jorge Quillfeldt disse...

Cáspite! Não tinha visto: o modelo de carta de excomunhão também aparece no vínculo que a Juliana enviou acima. As "instruções" ou "passos a seguir" estão todos lá. Cheguei tarde...

Anônimo disse...

Acho só que o Prof Renato Flores devia deixar mais claro que todos os abortos por ele recomendados são amparados por lei:

Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: Aborto necessário I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; Aborto no caso de gravidez resultante de estupro II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

Não sou advogado, mas tenho certeza que é fundamental se proteger más interpretações.

Roberto Moschen Jr disse...

O Zamora encaminhou para o aborto, não executou.
Tem uma reportagem da Veja bem interessante sobre a prática cada vez mais comum dos médicos considerarem o desejo da paciente acima das peripécias legais:
http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia-saude/acirrada-polemica-legalizacao-aborto-pais-exterior-417848.shtml

Thadeu Penna disse...

Eu fui batizado e fiz primeira comunhão (gosto de hóstia). Eu não pedi para ser excomungado pois poderia passar a falsa impressão que o batismo tem alguma importância a ponto de querer revertê-lo (apostasia). Depois que descobri o doce português barriga de freira (vejam http://come-se.blogspot.com/2008/05/barrigas-de-freira.html ), não senti mais falta da hóstia.

Anônimo disse...

Samovar,
incitar o crime tb é crime... Por isso comentei...

Anônimo disse...

Não estou surpreso por este post porque nesse país realmente vivemos em um obscurantismo intelectual. Mas uma coisa me surpreende: ser feito por professores e estudantes de uma tão prestigiada universidade. Defendi há pouco uma dissertação que trata das excomunhões na Idade Média (pena que esse páis não se interessa pelo tema, ainda que nossos sobrenomes portugueses revelem uma origem medieval) e alerto para o fato de quão elas eram benéficas. Primeiramente, quero dizer que apesar de ter nascido católico, acho muito difícil acreditar em qualquer força sobrenatural. Agora posso falar. As excomunhões serviam para impedir que pessoas poderosas cometessem assassinatos, estupros, e guerras. Muitos (vários mesmo) reis foram excomungados e diversos foram destronados, e muitas (muitas mesmo) guerras foram evitadas, sendo salvas milhões de vítimas. As excomunhões sempre eram anteccedidas de cartas muitíssimos carinhosas em que se exortava que aquele erro não fosse mais cometido, ou que não se cometesse (por isso o estuprador do caso não foi excomungado, ainda que a Igreja devesse mudar nesse aspecto). Muitas críticas eram feitas à Igreja por não ser mais firme, porque aldeias eram queimadas e a Igreja sempre esperava que os reis se arrependesse. Mas quando eram aplicadas seguia-se muitas vezes o destronamento, rompendose os laços entre os monarcas e seus súditos. Mas a excomunhão foi perdendo força no início do século XIV porque os governantes começaram a interferir na Igreja para obter poder e punindo os membros que os excomungassem. É de se frisar que não existia assistência social até bem pouco tempo atrás. Ela era feita pela Igreja, e por que? Porque apenas seguia a caridade cristã, recomendada por Cristo.Por que dizem que ela era tão rica? Ela alimentava os órfãos, viúvas, filhos que deixavam de ser abortados e entregues a ela, doentes e pobres. É ignorância falar em Igreja rica, uma vez que os bens não eram hereditários e que ela os utilizava para os pobres. Mais ignorância ainda porque os altares de ouro eram de desejo dos fiéis, mas estes deveriam contribuir com os pobres se queriam ricos templos. E as Cruzadas? Legítima defesa contra muçulmanos que já havia invadido toda a Península Ibérica, que impediam até os ortodoxos etíopes de peregrinarem a Terra Santa, que estavam a ponto de invadir a Grécia, Bulgária, Romênia. E será o que farão os mesmo turcos mçulmanos quando os cristão perderem Jerusalém. O pedido de ajuda foi feita por um imperador bizantino desesperado (e o que foi feito de Constantinopla, mais de 1 milhão de pessoas, e a Grécia? Pessoas sem liberdade até o raiar do século XIX graças às divisões na Cristandade). Os reis de religião ortodoxa choravam em suas cartas e o Papa se desesperava em buscar ajuda nos diversos ducados da Europa. Mais tarde na era moderna os turcos vão chegar às portas de Viena e será mais uma vez o Papa que vai publicar mais cartas que livros aos reis cristãos, agora divididos pelo protestantismo, até a batalha de Lepanto, tão importante na história européia e barra de vez o avnço muçulmano. Logo, foi legítima defesa, assim como defende a historiografia atual, que não precisaria ler calhamaços de documentos para comprovar o medo que todos sentiam na época. E a inquisição? A Igreja há que confessar seus erros em não salvar vidas da fogueira e por praticar torturas, mas ela apenas interrogava e muitos clérigos desconheciam o amor cristão, e as punições eram feitas pelos códigos penais de cada reino. A inquisição foi muito utilizada principalmente pela Espanha para perseguir seu inimigos e nessa época a excomunhão já havia perdido toda a sua força. Há uma grande confusão entre a comunitas cristã e a Igreja, entre os atos praticados por leigos e os clérigos. A chamada Reforma, não foi reforma, porque ela só é chamada assim quando se reforma a sua própria casa. Os clérigos deveriam lutar por ela por dentro e não levar às lutas entre os príncipes europeus. Fundação de religião só porque o Papa não queria conceder o divórcio, e outro fundador de religião que pregava a morte dos camponeses (imagina Cristo fazendo isso). Com a invenção da imprensa não se demorava mais anos para copiar uma Bíblia, mas poucas horas. O impacto disso tudo foi a interpretação de fins de mundo, seitas que não obedeciam mais às excomunhões (anos de teologia, anos de faculdade, bem sabem disso os médicos com o charlatanismo na medicina, não é? Na organização de uma Igreja isso também vale e vale também quando os autores desse post querem entender mais de teologia que pessoas preparadas. Quem não quer ir ao médico, simplesmente não vá. Quem não quer ser católico não seja). A Igreja sempre vai lutar pela defesa da vida, ainda que tenha tido muitas oportunidades de fazer isso no passado e não tenha se empenhado mais. Lembremos que as pregações de Cristo foram um avanço na história humana. Antes dele as pessoas se entregavam aos assassinatos, ao egoísmo (como está hoje), aos estupros, e as guerras eram muito mais comuns. O aborto era disseminado e Cristo veio para acabar com isso na Antiguidade e também entre os povos indígenas. Mas nunca foi imposição pela espada, como ocorreu na história de tantas religiões. A pregação era feita através de sermões, davam-se sermões àqueles que não seguiam o caminho de defesa da vida, que é o que valorizam as leis do Ocidente (todas frutos dessa moral cristã, ainda que rechassem a Igreja). Quando ocorrerram erros, sempre foram inspirados no Antigo Testamento, que Cristo aboliu, mas era muito difícil pelo fato das autoridades cristãs do primeiro século serem judeus (Hoje muitas religiões também fazem isso com o Antigo Testamento). Não somente Jesus, mas os ensinamentos de Buda e tantos outros (exceção aos fundadores de religião que sairam matando) são exemplos para nós e é por causa deles que as leis e o comportamento ocidentais tem todo esse fundo de "amor ao próximo" laicizado, ainda que frio. Para concluir, estranha-me muito o fato de as mulheres quererem ter controle sobre seus corpos. Tudo bem, basta não pertencerem aos Cristianismo e voltarem ao estágio anterior a ele (podemos chamar de atrasado porque mata seres humanos?), mas saibam que se as mulheres em massa aderissem a essa idéia e lei, acabaria-se com uma outra: aquela que concede benefícios às mulheres grávidas (icluindo a gentileza). Seria a dedução lógica do fato de não se considerar mais que exista vida dentro de uma mulher grávida. Mas peço que as mulheres que abortam tantos muilhões por ano entreguem essas crianças às instituições da Igreja, ou do Estado, à adoção. Quem sabe nós mesmos não agradeceríamos por não termos sido mortos, ou alguém que está perto de nós?

Anônimo disse...

Esses mitos de uma Igreja diabólica e atrasada aparecem também nos comentários de Arnaldo Jabour o qual, de forma ignorante, se referiu à Joana d'Arc no Jornal da Globo (recentemente) como tendo sido queimada na fogueira pela Igreja. Como se ela sempre foi protegida pela Igreja? Ela é chamada de Santa Joana d'Arc e foi queimada por bispos ligados ao rei da Inglaterra, um processo considerado, portanto, inválido imediatamente pela Igreja. Outro erro de Jabour quando comentou o caso da excomunhão dos médicos que fizeram o aborto: afirmar que a Idade Média era um período de trevas. Já faz tantas décadas que a historiografia mundial entende que essa é uma visão construída pelos renascentistas e que o próprio termo "renascentismo" é errado, visto que houve um desenvolvimento constante das artes e cultura nesse período, sendo utilizado ainda apenas por conveniência e pelo sentimento que havia na época. E foi a Igreja quem preservou essas obras copiando constantemente, já que não existia a imprensa, e ainda citando os autores antigos atribuindo-lhes autoridade semelhante aos doutores da Igreja (Aristóteles, Cícero, etc). E o direito romano que ainda rege o mundo ocidental? Renasceu na Idade Média inicialmente através do direito romano que o incorporava e o utilizava, sendo que os primeiros doutores eram clérigos doutores em direito canônico e romano. Por fim, algo que esse próprio blog revela em um post http://coletivoacidocetico.blogspot.com/2008_05_11_archive.html
que revela um grande mito (http://www.projetoockham.org/historia_terraplana_1.html) que até mesmo professores de história ainda ensinam. Mas porque esses mitos? Por que a história da Igreja era feita incialmente por ela mesma e, depois, com o anticlericalismo do século XIX, só é escrita por historiadores como eu, no fundo ateus, propensos às ideologias liberais. Mas quem tem rigor histórico, não aguenta ficar sem se manifestar diante desses mitos. Há que saber mostrar os dois lados.

Jeferson Arenzon disse...

Caro Troll Anônimo (por que será que nunca se identificam? medo do que?),

Carteiraços não funcionam aqui. Se declarar quase ateu, historiador, cientista, defender teses, etc, não ganha nossa simpatia automática. Dizer que somos obscurantistas e depois declarar que a Igreja só protege a vida, que antes de Cristo (e depois, não?) "as pessoas se entregavam aos assassinatos, ao egoísmo, (...) aos estupros, e as guerras eram muito mais comuns", que a Igreja não era a culpada pelos horrores da Inquisição, e que é um absurdo as mulheres terem controle sobre o próprio corpo?

Jeferson Arenzon disse...

Só para complementar, um comentário do Robert Park:

http://bobpark.physics.umd.edu/WN09/wn032709.html

1. ABSTINENCE: POPE BENEDICT XVI SAYS IT WORKS FOR HIM.
An editorial in today’s Lancet points out that, "When any influential person, be it a religious or political figure, makes a statement that could devastate the health of millions of people they should retract it," It was, of course, a reference to the Pope’s claim, made during his trip to Africa, that condoms may exacerbate the spread of AIDS. It was an egregious example of what Paul Tillich labeled "sacred dishonesty," in which the facts are revised to support a supposedly worthy conclusion. In fact, this was "sacred-dishonesty squared" the Pope’s real concern was not the spread of ATDS, but the spread off birth control. As terrible as AIDS is, the population explosion in Africa causes far more suffering, and it will only grow worse. The Pope preaches abstinence to prevent the spread of AIDS. But our sex drive was shaped by Darwinian evolution to ensure procreation. It works extraordinarily well, and manifests itself even within the Church. Against it, the gods themselves contend in vain.

WHAT’S NEW Robert L. Park Friday, 27 Mar 09 Washington, DC

Jeferson Arenzon disse...

Outro link relacionado:

http://bulevoador.haaan.com/2009/04/a-igreja-catlica-sempre-legitimou-a-violncia-dos-estados/

Giovanni disse...

Bom, se vocês não acreditam em Deus, não acreditam na Igreja, então o batismo não existe, não é verdade? É só um ritual babaca para vocês. Então por que se excomunhar, ou se desbatizar?

Marco Idiart disse...

Caro Giovanni
Já ouviste falar em "ironia"?

Yuri S. C. disse...

Bom, o email da imagem é bem genérico, podemos entender que o referido médico além de ser excomungado (puxa, que terrível!!) pode responder legalmente por crime - o que seria bem mais interessante que a excomunhão, sem dúvida.