terça-feira, 28 de outubro de 2008

“Carreteiro” de Criacionismo servido no Planetário da UFRGS

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Sendo “Evolução e Diversidade” o tema geral da V Semana Nacional de Ciência e Tecnologia realizada em todo o país de 20 a 26 de outubro último, era natural que escolhêssemos o criacionismo como tópico para a nossa atividade. Esse era o prato da vez.

E que banquete!


Quem de nós é o Dodô? –
A controvérsia Evolução X Criacionismo em pleno século XXI consistiu de uma série de palestras e filmes comentados sobre o conflito entre o Evolucionismo (científico) e o chamado Criacionismo (anti- ou pseudocientífico - já que existem as duas modalidades). Somos o Coletivo Ácido Cético / UFRGS e este evento fez parte do projeto Ciência no Planetário – Colóquios Eduardo D. Barcelos, promovido pelo Planetário José Baptista Pereira, pelas Pró-Reitorias de Extensão e de Pesquisa da UFRGS, e pela Sociedade Astronômica Riograndense (SARG).


Nos três dias do evento, a Sala Multimeios do Planetário (65 lugares), ficou pequena para acomodar o público que compareceu. No primeiro dia (21/10), pelo menos 144 pessoas apertaram-se para prestigiar as palestras dos professores Aldo Mellender de Araújo e Renato Zamora Flores. Enquanto o primeiro fez um completo apanhado histórico desta que é a mais importante corrente de pensamento unificador nas ciências biológicas, o segundo discorreu sobre os principais ataques pseudo e anticientíficos sofridos pela biologia evolucionista, em particular aqueles librados por oponentes religiosos, fundamentalistas ou não. Os “fatos” da Evolução, ou seja, as evidências experimentais a favor tanto do processo micro quanto macroevolutivo constituem um dos mais sólidos consensos entre os pesquisadores da área; claro que existem críticas puntuais aqui ou ali – outrossim, característica inerente ao processo científico na comunidade de especialistas –, mas nada disso se aproxima da “acusação” criacionista de que “não há provas de que exista essa tal de Evolução”. Os criacionistas geralmente tergiversam ou simplesmente ignoram tais evidências, substituindo-as por enunciação de ”verdades” reveladas e dogmas – a eloquência no lugar da evidência. Após as falas, um acalorado debate estendeu-se por mais de uma hora, e a maioria dos presentes permaneceu até o final, mesmo aqueles que estavam sentados no chão. Um público predominante de graduandos de ciências biológicas, física e áreas afins, além de secundaristas e professores, enriqueceu a discussão com sua inquietudes e curiosidades.

O sucesso de público repetiu-se nos dias seguintes, quando exibimos dois filmes. Em 22/10 exibimos o clássico de Stanley Kramer, O Julgamento do Macaco (Inherit the Wind), de 1960, cujos diálogos estonteantes e impecável roteiro recriam de forma magistral o julgamento do professor John Scopes, acusado de ensinar a teoria de Evolução em Dayton, Tennessee, em 1925. Mesmo após o filme com mais de duas horas de duração, o debate prosseguiu por mais uma hora envolvendo as 68 ou mais pessoas presentes. Já no útimo dia, 23/10, pelo menos 88 pessoas assistiram à estréia nacional do documentário dirigido por Randy Olson, Um Bando de Dodôs – O Circo da Evolução e do Criacionismo, cujas legendas em português foram preparadas pelo próprio Coletivo Ácido Cético (com apoio do diretor). No filme, a nova abordagem criacionista conhecida como “Projeto Inteligente” – que se pretende “científica” - é cuidadosamente desmascarada, provando ser, mais uma vez, vinho velho em garrafas novas (no caso, garrafas com uma aparência irresistível - mas furada - de ciência).

Olson inclusive enviou uma mensagem especial de saudação ao público presente, que foi lida antes da exibição: “Aqui nos EUA estamos sofrendo uma infestação de Dodôs” – disse, mencionando, então, duas “aves” de mesma penugem, as criacionistas Connie Morris (que aparece no filme) e Sarah Palin (que concorre à vice-presidência nos EUA), duas personagens que – diz ele – gostaria que “tomassem o mesmo rumo dos Dodôs”...

Na Foto: Renato, Jorge, Renata, Aldo, Adriano, Tadeu
e Douglas (ausentes na hora: Jeferson, Marco e Juliana)

O Coletivo Ácido Cético reúne basicamente professores e estudantes de Física e Biologia sob um triplo denominador comum: o compromisso com a divulgação do conhecimento científico de qualidade em todos os níveis, a promoção do pensamento racional e do espírito crítico adequadamente equipado, e o enfrentamento direto de todo tipo de embuste, manipulação e mentiras difundidos “em nome” da Ciência. Unidos pela percepção de que o pensamento crítico não é o forte nesses tempos “pós-modernos”, vários de nós, há muitos anos, vimos enfrentando algo quixotescamente as mais variadas manifestações de charlatanismo e obscurantismo a nossa volta. Inclusive no ambiente acadêmico, por incrível que pareça.

O Coletivo iniciou suas atividades em novembro de 2006, com duas exibições "comentadas" do pseudo-documentário Quem Somos Nós? para uma audiência mais de 150 estudantes universitários comovidos pelas falsas expectativas criadas pelo filme (um amontoado de mentiras e distorções sobre mecânica quântica e neurociências), no auditório do ILEA, UFRGS. Como Coletivo, sabemos que deveríamos fazer mais. Paradoxalmente, o que nos falta de tempo para atividades mais frequentes, nos sobra de disposição e bom humor para os necessários embates.

[Aguarde mais fotos]

9 comentários:

Cristiano Dalbem disse...

compareci somente ao último dia, mas com toda culpa de não ter vindo nos outros. mal posso esperar por mais! um parabéns especial ao Jorge que "segurou" legal a galera enquanto um tal outro professor não chegava, mas acabou dando uma palestra e tanto...

Renata Lima disse...

Neste evento ficou claro que existe um público interessado neste tipo de discussão. Cabe a grupos como o Coletivo Ácido Cético promover estes debates, já que dentro da sala de aula quase não há incentivo para este tipo de questionamento. Muito se fala na pluralidade do pensamento (principalmente em tempos pós-moderno)... mas é preciso tomar cuidado... como bem disse L. Sprague de Camp:

“Many people have developed minds that are not only open, but gaping”

Anônimo disse...

e como foi???

Jeferson Arenzon disse...

No "LEIA MAIS" há uma descrição de como foi o evento (com fotos). Um grande sucesso! Já estamos organizando algumas continuações. Por exemplo, o documentário "Bando de Dodôs" será exibido (e debatido) durante a Semana Acadêmica do IF-UFRGS, provavelmente no dia 17/11/08.

Essa primeira edição, por ter sido feita na UFRGS, atingiu majoritariamente um público universitário. Seria muito legal ver iniciativas como essa voltadas para outras faixas da comunidade.

Anônimo disse...

Compareci aos três dias no planetário. os dois primeiros foram muito bons. O último, bem, deixou muito a desejar.

Comentaram, em uma das palestras, sobre como o meme do Criacionismo é algo pernicioso. Pois na palestra do último dia constatamos algo igualmente pertinente. Só há um meme mais pernicioso do que o do Criacionismo: o meme do Marxismo.

É lamentável o que o vírus marxista faz com a mente de um sujeito inteligente. Quando infectado por tal vírus, o sujeito não consegue observar NENHUM ASPECTO DA REALIDADE fora da óptica marxista. Tudo, absolutamente tudo, do ponto de vista de um marxista, pode ser explicado levando-se em consideração a "luta de classes", o capitalismo, o "consumismo", etc.

E isto ficou evidente na "palestra" do professor Jorge (não estou bem certo se este é o nome dele) no último dia. Eu estava lá para presenciar uma discussão sobre evolucionismo X criacionismo, sobre formas de tornar a ciência mais atrativa para o público em geral. E o que vi?

Sinceramente, só faltava o palestrante falar que a solução para a questão do ensino de ciência para o público é acabar com a propriedade privada, coletivizar a terra e os meios de produção e implantar a "revolução"! Esta é a solução para todos os problemas da humanidade!

Lamentável mesmo como o Marxismo deprava a mente de uma pessoa.

No momento em que o professor começou a falar sobre as altamente questionáveis condições de vida em Cuba, aí eu já estava quase levantando a minha mão para intervir no debate. O que era um debate sobre criacionismo X evolucionismo, sobre ensino de ciência, já começava a virar pura doutrinação sobre as condições de vida em Cuba! Por sorte a "palestra" já estava terminando neste momento.

Estou certo de que o professor é um sujeito muito competente na área dele. Eu sei como desvincular-se das convicções políticas pode ser algo difícil para um marxista, mesmo que o assunto em questão pouco ou nada tenha a ver com política (o meme do Marxismo deprava o raciocínio lógico mesmo dos sujeitos mais inteligentes). Mas vale tentar. E acho que suas palestras só teriam a ganhar se ele deixasse suas convicções pólíticas de lado quando palestrasse.

Jorge Quillfeldt disse...

Prezado Henrique,

Parece que também tens um "meme" que, ao detectar “traços de marxismo” no discurso de alguém, passa a rotulá-lo integralmente, simplesmente desprezando toda e qualquer contribuição sua. Lamento que sejas tão intolerante, já que sugeres ser capaz de "separar" completamente as coisas da ciência das coisas do mundo real. Admito ser mais limitado: acho impossível separar o conhecimento da vida.

Por isso, sinto muito se te infringi tanto sofrimento mental inadvertidamente. Mas não custa lembrar que na noite de quinta-feira tive de “palestrar” (?) de improviso, em substituição a meus colegas que não puderam comparecer, e lembro de ter alertado a todos sobre isso. Curiosamente ninguém se retirou ou contestou durante a hora e meia que estivemos batendo um agradável papo.

Por fim, eu e meus colegas gostaríamos de saber também tua opinião sobre as palestras de Evolução e Criacionismo ou dos filmes, coisa que ainda não vi. Após tua enfática censura ideológica (aqui, e na matéria do Saci), sinto-me no direito de dizer - parafraseando-te - “que teu comentário só teria a contribuir se tu deixasses tuas convicções políticas de lado quando comentasses em nosso blogue”.

Saudações,

Jorge Quillfeldt
(e sua mente depravada)

Anônimo disse...

Bom, como eu comentei rapidamente no primeiro parágrafo, achei muito bons os dois primeiros dias e o filme do terceiro dia. Se houver mais eventos do tipo, certamente comparecerei. Acho admiráveis tais esforços - tanto as palestras abertas ao público quanto o blog - para divulgar o conhecimento científico e esclarecer as pessoas acerca de toda a sorte de crendices e charlatanismo disfarçados de ciência.

Mas acusar-me de praticar "censura ideológica", de "intolerante", foi demais, professor. Tive uma opinião a respeito da sua apresentação no terceiro dia e a estou emitindo, apenas. Não tenho a intenção de proibir ninguém de fazer a salada de fruta científico-ideológica que quiser. Desde que este seja um espaço aberto para críticas também, eloquei a minha crítica.

Apesar de ter sido enfático demais - reconheço -, minha intenção foi fazer uma crítica construtiva. Não estou aqui para criar polêmica, mas sim porque, como já disse, admiro tais iniciativas e prezo pela sua qualidade.

Voltaire Paes Neto disse...

Jorge, gostaria de saber o nome dos livros que foram referidos nas palestras do primeiro dia. Procurei mas não encontrei aqui no blog.

Bom... agradeço pela iniciativa do grupo e espero novos encontros como este.

Marco Idiart disse...

Caro Henrique

Acho que o que pegou mal do seu comentário não foi a crítica ao idealismo marxista do Jorge, mas o tom arrogante. Por exemplo
"Lamentável mesmo como o Marxismo deprava a mente de uma pessoa."
dá a entender que ele tem a mente depravada e você não.
Afirmação tão categórica que indica que tens alguma sabedoria, que a nós falta. Poderia partilhá-la com a gente?

Não estou alinhado com todas as visões socio-políticas do Jorge, mas para mim é evidente que a divulgação da visão da ciencia pode ter obstáculos de origem econômica. Lembre que nem sempre o melhor produto é aquele que tem o sucesso de vendas.

Abração