sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Perdido no espaço! O desconhecido Programa Espacial Brasileiro e a síndrome de vira-lata

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Amazônia-1 um satélite totalmente nacional
No programa final do Fronteiras da Ciência deste ano - "O melhor da Ciência e Tecnologia da década" (T11E40, nosso editorial de fim de ano) - comentava sobre os programas espaciais dos países como China (missão à Lua) e Índia (missão à Marte) e mencionei que "inclusive nosso programa espacial é muito bom". Soube, então, que alguns não acreditaram, e houve até quem dissesse que o programa aeroespacial brasileiro teria retrocedido para pequenos lançadores e micro satélites. É fato que nos últimos anos o país inteiro retrocedeu em vários setores, em particular no apoio à C&T, bem sabemos, mas se até as pessoas bem informadas têm essa percepção do setor de tecnologia de ponta em nosso país é por que sua divulgação anda bastante falha, por isso acho que vale a pena compartilhar algumas observações e dados.

Quanto aos lançadores, a crítica, de certo modo, procede, os projetos de lançadores maiores deixaram de ser prioridade desde o acidente de Alcântara em 2003, mas o programa não consiste apenas de "microsatélites", como mostra, por exemplo, esta matéria deste ano.
No seu lugar, o Brasil estabeleceu colaborações com diversos países para fins de lançamento de satélites (França, China, Índia e Rússia, sobretudo). Aliás, o programa de lançadores continuou se desenvolvendo, como pode-se ver nesta publicação do EAE (Instituto de Aeronáutica e Espaço) de 2018, embora mais no setor militar, infelizmente.

O problema é que há um verdadeiro apagão midiático acerca de tudo que desenvolvemos de alta tecnologia e megaprojetos científicos no Brasil, especialmente desde abril de 2016 com a interrupção da normalidade democrática: por exemplo, o Criosfera1 na Antártica (e o 2 a caminho - no qual a UFRGS tem um papel proeminente), a participação nos consórcios internacionais Gemini SOAR de grandes telescopios, o Observatório de Torre Alta ATTO de estudos climáticos na Amazônia, as tecnologias únicas da PETROBRÁS que levaram à descoberta do Pré-Sal, nosso submarino nuclear, as aeronaves de distinto porte desenvolvidas pela EMBRAER (mais detalhes aqui), etc,etc - enfim, a lista não é pequena.

O Brasil tem 9 satélites em órbita, e apenas 3 desses são nanossatélites, todos de uso educacional (suponho que sejam os micro satélites mencionados). Quatro dos grandes são relativamente antigos, mas o CBERS-4 foi lançado há apenas seis anos de Talyuan na China, e o SGDC-1, um geoestacionário de defesa, subiu em 2017 numa colaboração com a França. Nosso décimo satélite será o Amazonia I , completamente desenvolvido no Brasil, programado para ser lançado em fevereiro de 2021 próximo a partir da base SHAR/Sriharicota na India, também nos marcos de uma cooperação internacional. Fora isso há projetos mais ambiciosos que estão em fase avançada de desenvolvimento, como o satélite científico Monitor e Imageador de Raios-X MIRAX (veja contextualização aqui) e a missão ASTER , uma sonda espacial brasileira que estudará um asteróide carbonáceo triplice chamado 2001SN263. Sobre esses últimos dois projetos, e muito mais, sugiro que escutem os programas do Fronteiras T07E06, T07E10 e T07E13).

Diante disso, e apesar dos cortes na C&T e todas as dificuldades que vimos enfrentando no pais, parece-me equivocado imaginar que o programa espacial brasileiro está parado. Basta seguir a página www.inpe.br/noticias para saber de tanta coisa interessante que fazemos. A grande mídia tem grande responsabilidade no tocante à invisibilidade de todo esse trabalho, não demonstra interesse em mostrar brasileiros se esforçando para desenvolver uma nação soberana, só enfoca nosssa mazelas de corrupção e prepotência. Quando fala, seu objetivo parece ser realimentar um certo complexo de vira-lata, a idéia de que certas coisas são "areia demais pro nosso caminhãozinho". Bem, temos capacidade e podemos fazer o que bem entendermos!  

O Brasil já está no espaço, e pode muito mais!

O problema são os entreguistas - ora no comando, e eles controlam boa parte da narrativa pública. Por isso é importante irmos sempre às fontes (ou à wikipédia).

Ano que vem gravaremos balanços desses projetos.

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