sexta-feira, 19 de março de 2010

Vida de Cético

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Uma crítica frequente à postura cética veiculada aqui é a de que céticos também "acreditam". Fomos inclusive acusados de sectários e fanáticos por leitores descontentes com o conteúdo. Disseram que as visões ditas céticas aqui não passariam de dogmas de um outro tipo de religião.

A resposta rápida a isto é: "a crença para cético é probabilistica e varia no tempo". Esta probabilidade é construída em cima de evidências e critérios, e os critérios vem da ciência e seus métodos. Como não podemos testar toda a afirmação que se apresenta usando nós mesmos o método científico, temos também que depositar uma certa confiança, um peso de probabilidade, em um outro aspecto da ciência: suas práticas de divulgação e debate.

Um cético crerá com maior probabilidade em informações veiculadas em instrumentos de divulgação que respeitem grosseiramente 3 critérios: 1) adotam o método científico como filtro único de publicação, e usam avaliadores experientes e imparciais para checá-lo . 2) promovem liberdade de debate (se os argumentos passam o critério 1) ). 3) são de ampla divulgação.

Bom, já vejo um monte de comentários criticando a minha ingenuidade. De qualquer forma a mensagem é que, mesmo eles sendo muito idealizados, se uma publicação abre mão de algum destes critérios, devemos ter cautela com a qualidade da informação ali depositada.

A vida de cético não é fácil!

Neste link vocês encontram a razão principal deste meu post. Trata-se de uma publicação chamada "Medical Hypothesis" editada pela Elsevier que tem gerado muito debate recentemente. Divirtam-se. A fonte é a revista Nature, que passa brilhantemente os 3 critérios acima.
http://www.nature.com/news/2010/100318/full/news.2010.132.html

16 comentários:

Chico disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Chico disse...

Já havia ouvido e lido (fracos) argumentos sugerindo que o ceticismo tem dogmas. Mas céticos se deixam convencer por evidências, e estas ou sustentam renovações no conhecimento científico, antagonicamente à imutabilidade dos dogmas, ou confirmam hipóteses já conhecidas e bem fundamentadas, antagonicamente ao caráter irracional dos dogmas.

Anônimo disse...

Marco,

Interessante esse teu post.

"os critérios vem da ciência e seus métodos"
Levanto então uma crítica: com base nos comentários ditos aqui mesmo, porque há um ceticismo desequilibrado quando se fala de assuntos que tem implicações ideológicas?

"a crença para cético é probabilistica e varia no tempo"

Probabilística? Pela quantidade de pessoas que crêem em determinada afirmação, por exemplo, ou pela lógica que deve ser intrínseca?

Por favor, cite um exemplo de algo que tu crê e suas justificativas (com a devida probabilidade).

Obrigado.

Anônimo disse...

Legal o post, mas não pode um cientista crer no "método científico" pois ele não existe... Sugiro Epistemologia (Filosofia da Ciência)... Sei que todos vcs não praticam o famigerado "método científico" ao fazer ciência, mas adotam ele no discurso e isso é um falha grave...

Bom, após muita leitura sobre Epistemologia isso será esclarecido...

Abraço a todos os céticos como eu...

Anônimo disse...

Legal o post, mas não pode um cientista crer no "método científico" pois ele não existe... Sugiro Epistemologia (Filosofia da Ciência)... Sei que todos vcs não praticam o famigerado "método científico" ao fazer ciência, mas adotam ele no discurso e isso é um falha grave...

Bom, após muita leitura sobre Epistemologia isso será esclarecido...

Abraço a todos os céticos como eu...

Anônimo disse...

Legal o post, mas não pode um cientista crer no "método científico" pois ele não existe... Sugiro Epistemologia (Filosofia da Ciência)... Sei que todos vcs não praticam o famigerado "método científico" ao fazer ciência, mas adotam ele no discurso e isso é um falha grave...

Bom, após muita leitura sobre Epistemologia isso será esclarecido...

Abraço a todos os céticos como eu...

Sandi disse...

Gostei da resposta rápida: "a crença para cético é probabilistica e varia no tempo".

esta é aparentemente uma postura sensata...dependendo do valor dos parâmetros é claro... XD

Marco Idiart disse...

Caro Anônimo

Sei bem da dificuldade da definição de um método científico único para todas as áreas do conhecimento. Mas isto não era bem o foco do post. Por sinal, seria um bom desafio colocar o problema de forma sucinta num post. Aceitas o desafio?

A minha questão era questinar a suposta equivalência entre um cético (como nós definimos neste post) e um religioso, simplesmente por causa da palavra "crer".

Por exemplo, tu acreditas que o último teorema de Fermat foi provado? Tu és místico porque acreditas sem ter feito as contas?


Talvez o problema da "Medical Hypothesis"seja sim um caso de discussão de epistemologia. Como lestes no texto, o criador da revista acreditava que não se deve inibir a produção de hipótesis. Não importa o quão malucas elas parecam.Eu sou um pouco partidário disto. Criatividade faz parte da ciência. E num primeiro momento a gente nem sabe direito as bases rigorosas de uma idea que tivemos.

O problema da revista é que desembestou para uma falta de critério absoluta, o que é o extremo oposto. Isto fica mais crítico numa sociedade de charlatões e leitores de Wikipédia, que usam o conhecimento superficial para promover suas idéias. Veja o caso de HIV e AIDS. Tem todo um movimento fanático-religioso que diz que AIDS vem de "mau comportamento". Esses caras podem pegar este artigo e usar para fazer pessoas abandonarem tratamentos, omitindo obviamente os 5000 artigos que dizem o contrário, com evidências científicas mais sólidas.

Anônimo disse...

Marco,

"Por sinal, seria um bom desafio colocar o problema de forma sucinta num post. Aceitas o desafio?"

Desculpe a minha intromissão, mas eu gostaria que fosse feito isso. Temos muito a aprender juntos... =)

Israel Goncalves de Oliveira disse...

Pseudo-ceticismo
O termo pseudo-ceticismo ou ceticismo patológico é usado para denotar as formas de ceticismo que se desviam da objetividade. A análise mais conhecida do termo foi conduzida por Marcello Truzzi que, em 1987, elaborou a seguinte conceituação:

Uma vez que o ceticismo adequadamente se refere à dúvida ao invés da negação - descrédito ao invés de crença - críticos que assumem uma posição negativa ao invés de uma posição agnóstica ou neutra, mas ainda assim se auto-intitulam "céticos" são, na verdade, "pseudo-céticos".[15]




.

Em sua análise,[15] Marcello Truzzi argumentou que os pseudo-céticos apresentam a seguinte conduta:

A tendência de negar, ao invés de duvidar.
Utilização de padrões de rigor acima do razoável na avaliação do objeto de sua crítica.
A realização de julgamentos sem uma investigação completa e conclusiva.
Tendência ao descrédito, ao invés da investigação.
Uso do ridículo ou de ataques pessoais.
A apresentação de evidências insuficientes.
A tentativa de desqualificar proponentes de novas idéias taxando-os pejorativamente de 'pseudo-cientistas', 'promotores' ou 'praticantes de ciência patológica'.
Partir do pressuposto de que suas críticas não tem o ônus da prova, e que suas argumentações não precisam estar suportadas por evidências.
A apresentação de contra-provas não fundamentadas ou baseadas apenas em plausibilidade, ao invés de se basearem em evidências empíricas.
A sugestão de que evidências inconvincentes são suficientes para se assumir que uma teoria é falsa.
A tendência de desqualificar 'toda e qualquer' evidência.
O termo pseudo-ceticismo parece ter suas origens na filosofia, na segunda metade do século 19.[16]

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ceticismo

Marco Idiart disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marco Idiart disse...

Blogger Marco Idiart disse...

Oi Sandi

Eu gosto muito da idéia que a crença é probabilistica no sentido que um indivíduo passa por contradições onde ora ele age como se acreditasse em X ora como se desacreditasse de X. Mas na medida em que explora e testa a realidade, uma das escolhas vai prevalecendo. Algo como um aprendizado Bayesiano.
Mas claro, o segredo é saber como fazer o update da probabilidade, dadas as evidências. Senão ao invés de aprender, desaprende.

Mas o que você acha do assunto da "Medical Hypothesis"?

Anônimo disse...

Só um "breve" comentário:

"Isto fica mais crítico numa sociedade de charlatões e leitores de WIKIPÉDIA, que usam o conhecimento superficial para promover suas idéias."

Acesse:
http://coletivoacidocetico.blogspot.com/2009/10/ii-semana-cetica-da-ufrgs-evolucao-x.html

Control + F
Ou vá em pesquisar.

Procura por wikipedia.

--

"charlatões e leitores"
Isso eu achei interessante! Não é charlatões leitores, mas charlatões E leitores da Wikipédia.

Poxa! Eu leio mais de 48 sites, entre eles tem sites ateus, evolucionistas, criacionistas, apologéticos etc, e leio muitos artigos na Wikipédia.

Tá certo que tem realmente coisas erradas, mas muitos artigos possuem as devidas referências! E isso pode dar uma boa noção o quanto o artigo é bom ou não.

Por exemplo, o artigo sobre o Criacionismo é totalmente mal feito, e olhando as referências, percebe-se que SÓ tem fontes contrárias ao criacionismo! Não é atoa que está devidamente marcado com duas ressalvas quanto a honestidade do autor =)
São 13 referências, uma delas é a Evil Bible e 4 são evolucionistas!
Muita desonestidade, muito pseudo ceticismo!

Mas o artigo sobre o Design Inteligente está muito bem escrito, com TODAS as referências certinhas, com tudo bem explicado e sem apelos intelectuais desonestos.
São 228 referências, e grande parte referências de fontes que apoiam essa teoria!

Poisé, vida de cético não é fácil, temos que estar sempre atentos! Sempre tem alguém que não presta falando que quem presta não presta!

Sandi disse...

Oi Marco.

Eis minha opinião "default" em relação a este tipo de publicação (publicações que se autointitulam "científicas", mas não passam pelo processo de filtragem, citado no post): estatísticamente elas não são confiáveis, por melhores que sejam as intenções dos autores dos artigos. No caso da "Medical Hypothesis" a situação parece bem crítica, afinal "medicina" é um assunto delicado, trata-se de colocar a vida de outras pessoas em jogo. Nessa área o rigor no processo de filtro deveria ser bem maior.

Claro que o filtro pode não ser suficiente, mas em princípio elimina uma boa quantidade de "bugs"...

Essa é a minha opinião default, mas a questão pode ser bem mais complicada, por que não vivemos em um mundo idealizado (esféricamente simétrico e sem atrito =p, não resisti). Por isso, tenho um certo receio em generalizar demais a minha opinião (o que não aconteceria se eu tivesse certeza de que o filtro é ideal)...

Anônimo disse...

Teste para os céticos de carteirinha (apenas).

Qual é a porcentagem de semelhança entre o homem e o chimpanzé?

Resposta:
1. Jon Cohen, News Focus on Evolutionary Biology, “Relative Differences: The Myth of 1%,” Science http://www.sciencemag.org/cgi/content/full/316/5833/1836 , 29 June 2007: Vol. 316. no. 5833, p. 1836, DOI: 10.1126/science.316.5833.1836.

Tá na Science!

Para os "céticos" corajosos:
http://pos-darwinista.blogspot.com/2007/06/bomba-bomba-semelhana-gentica-de-99-de.html

Leia sem medo!

Um forte abraço!

Chico disse...

Muito interessante. Já havia ouvido muitas vezes a história dos 99% ou 98% de semelhança. Só não entendi como a rejeição dessa hipotética semelhança depõe contra o darwinismo, já que o chimpanzé não é um antepassado do homem moderno. Pra mim, leigo em biologia e evolução, a diferença mais saliente entre homem e chimpanzé só significaria que o antepassado comum entre eles é mais velho do que se pensava, ou que houve maior mutabilidade genética do que se supunha desde esse antepassado.

Li o texto do blog linkado. Achei curiosa a descrição do autor, a qual me fez duvidar da sua honestidade. Ele diz que não tem mais fé cega no ateísmo (sugerindo que não é mais avesso à idéia de uma entidade fantástica) e depois diz que a ausência de evidência implica descarte ou reformulação de hipótese. O não-ateísmo é uma das hipótese mais desprovidas de evidência da História. Que contradição!

Para mim, ateísmo não é ter certeza de que deuses não existem, pois ainda existem lacunas no conhecimento, que não sabemos com o que serão preenchidas. Eu ficaria muito feliz se pudesse contatar outra forma de vida inteligente, seja um extra-terrestre ou uma entidade mágica invisível ultrapoderosa. Seria uma experiência maravilhosa e uma revolução no conhecimento. Para mim, ser ateu é apenas ter convicção de que os motivos que levam à crença em entidades fantástica são tolos e sem qualquer compromisso com a verdade.