quinta-feira, 1 de julho de 2010
Uma controvérsia inexistente
Existem controvérsias na comunidade científica, sem dúvida. Afinal, a ciência avança assim, colocando-se em dúvida o conhecimento, fazendo perguntas, criando hipóteses e humildemente oferecendo essas hipóteses em sacrifício ao implacável teste da realidade. Não existem verdades absolutas, nem dogmas. O que não significa que a ciência não se aproxime, passo a passo, de uma descrição mais afinada e fidedigna da realidade. Isso foi deixado transparente por Isaac Asimov (The relativity of wrong ou, traduzido, A relatividade do errado), que considero leitura essencial (principalmente para os relativistas e pós-modernos). Uma controvérsia dentro do meio acadêmico pode levar anos para ser decidida, esperando, por exemplo, melhores técnicas experimentais. Qual é o critério? Não é a elegância da teoria, nem sua popularidade, simplicidade, facilidade de entendimento, ou outra característica mundana qualquer, mas sim as evidências objetivas e a sobreposição com a realidade (obviamente estou falando a longo prazo, pois a curto, há fatores humanos envolvidos e as coisas são mais complicadas). Quando há uma controvérsia genuína (exemplo 1 e 2), existem grupos de cientistas, com grande conhecimento técnico sobre o tema, defendendo explicações alternativas para alguma observação. Para se qualificar como genuína, devemos ter portanto pelo menos duas teorias conflitantes, com poder explicatório e falseáveis (ou seja, fazem previsões que podem, em princípio, demonstrá-las falsas). Como Gary Herstein menciona em seu conjunto de regras heurísticas, para se ter uma controvérsia científica não basta encontrar uma meia dúzia de PhDs dizendo absurdos. Pode-se encontrar, embora a probabilidade seja pequena, um químico ou geólogo mostrando que os métodos que temos de datação estão errados (por alguma estranha coincidência, eles acreditarão também que a Terra tem 6000 anos e serão religiosos), mas não existe controvérsia sobre isto no meio acadêmico.
O que então normalmente configura uma falsa controvérsia científica? Em primeiro lugar, a alternativa oferecida não é ciência. Em segundo, o grupo que se opõem não é composto de pessoas com conhecimento técnico e profundo sobre o assunto, mas normalmente compartilha algum interesse econômico, político ou religioso. Terceiro, embora popularidade seja somente um indício, a alternativa científica é defendida pela vasta maioria da comunicade científica.
Como são os debates nessas falsas controvérsias? A característica mais notável é o domínio prático, mas não teórico, de todas as falácias imagináveis pelo grupo alternativo. Ataques às pessoas, mas não suas ideias (ad hominem), apelo à ignorância (ad ignorantiam), etc são recorrentemente encontrados nestas discussões. Uma falácia específica vale a pena ressaltar: o uso repetido de velhos, e já demolidos, argumentos (ad nauseam). Essa é uma tática conhecida.
A pergunta que resta é: em que casos devemos ensinar a controvérsia científica? A resposta é óbvia: quando há duas propostas científicas (e não basta ter "científico" no nome). Mas isso não precisa ser ensinado em cursos elementares, nesses deve-se ensinar o que está bem estabelecido pela ciência, como a Evolução (e para os religiosos de plantão, antes de comentarem este post, eu sugiro que o releiam, e se ainda tiverem vontade de comentar, leiam novamente). Abaixo vemos vários exemplo onde não devemos ensinar a alternativa. Existem outros, um pouco mais elaborados, mas na essência não muito diferentes do caso da cegonha.
Dica do texto do Asimov: Miraglia
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13 comentários:
Muito bom o texto, exceto, claro, por duas questões:
1. Faltou falar que além de interesses econômicos, políticos e religiosos, também tem os intresses ideológicos e filosóficos. O tal do naturalismo filosófico, o materialismo que posa como ciência para "estar do lado da verdade e da razão"... ridículo!
2. Evolução não tem justificativa teórica científica nenhuma. Onde estão os Elos, perdidos ainda! A caixa preta e Darwin está a ficar cada vez mais complexa. Ele mesmo declarou a morte de sua teoria como dependente dessa caixa. A melhor ideia da humanidade não parece tão boa assim ultimamente. Simplesmente ridículo colocar as hipóteses de evolução no mesmo nível de outras teorias muito bem estabelecidas.
Muito bom o texto, mas, como sempre, recai nas falácias clássicas.
Realmente, dogmas acadêmicos são difíceis de derrubar.
Excelente texto. Bastante esclarecedor e abrangente.
E, Israel, não te preocupes com a evolução. A tua existência é prova mais que suficiente de que ela não acontece.
Os autores deste blog se reservam o direito de não comentar as mensagens do Sr. Israel. Leiam a discussão ocorrida neste item (e alguns outros) e tirem suas próprias conclusões.
hahah Ótimo texto! :)
Pra variar, a gente tem que correr rapidinho pra não ler os comentários. rsrs
Como assim "a evoluçao não tem justificativa teorica cientifica?" qual é alternativa a ela?
Olhe em volta, a evoluçao está em todo lugar, veja os caes das madames, acha que já existiam a 6 mil anos atras?
oi Lucas,
dá uma olhada no link do meu comentário acima e vais entender que esta não será uma discussão racional. Além disso, nossa política é não alimentar os trolls...
Abs,
Jef,
Me perdoa, mas eu tenho de dizer isso:
Colocar aquela mensagem sobre se reservar de responder comentários e depois dizer para os outros verificarem um histórico querendo me desqualificar, ignorando a capacidade de crítica dos próprios leitores que tentas advertir???
Essa é a manifestação mais infantil que já tive o desgosto de presenciar (ler).
Novamente, me desculpe em falar: isso que tu estás fazendo é bem vergonhoso.
Os autores deste blog se reservam o direito de não comentar as mensagens do Sr. Israel. Leiam a discussão ocorrida neste item (e alguns outros) e o comentário anterior e tirem suas próprias conclusões.
"Evolução não tem justificativa teórica científica nenhuma. Onde estão os Elos, perdidos ainda!"
.
Israel: acenderam uma vela para o negrinho do pastoreio e acharam os elos perdidos!
E, vou te contar: faz tempo...
.
Te acostuma.
Em defesa do Jeferson, digo que ele está fazendo algo nobre e solidário pelo Israel, poupando-o de se expor ao ridículo com suas intermináveis redações esquizofrênicas, e pelo leitor desavisado do CAC, que às vezes não percebe de imediato que está prestes a debater com um sujeito agressivo e desrespeitoso que literalmente - realmente, de fato, sem exagero, metáfora ou ironia - acredita que os dinossauros foram extintos porque eram muito grandes para embarcar na Arca de Noé.
Chico,
Obrigado. Eu inclusive coloquei uma parte em negrito na segunda vez para ver se ajuda...
Abs,
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