Esperamos que já tenham escutado o podcast da semana passada, por que não aguentamos mais e vamos contar toda a verdade
: era tudo mentira!
Ou quase tudo: as citações do Einstein e do Da Vinci eram todas legítimas, todas D.O.C. - mesmo que fora de contexto (ou de propósito). Os trechos lidos de livros, também, por incrível que pareça.
Vários notaram de saída, pois não fomos nem sequer muito originais: simplesmente fizemos uma radiodramatização no "espírito" do trote de Sokal de 1996, temperado na cozinha do Fronteiras da Ciência.
Para aqueles que se deram conta somente após escutar alguns (ou muitos) minutos, as pistas iam aparecendo cumulativamente, não estava fácil mesmo. Alguns ouvintes escutaram várias vezes o trecho lido do livro de Sheldrake, por exemplo, incomodados por não o estar entendendo: vocês entenderam perfeitamente, trata-se de um trecho que não faz sentido mesmo (pouca coisa ali faz sentido).
A maior parte do que falamos não fazia nenhum sentido, e era essa mesmo a intenção: manter um fluxo argumentativo coletivo em tom pós-moderno, temperado aqui e ali com referências pseudocientíficas, abusando de falácias e do mútuo suporte do grupo - um falava e os demais concordavam mantendo a seriedade... Vocês podem imaginar como foi conturbada a gravação original, interrompida por inúmeras explosões de gargalhadas (uma única amostra sobreviveu na resolução do programa, após a cortina de encerramento).
O resultado final demonstra também o terrível poder (nada oculto) da edição: com ela, pode-se manufaturar* qualquer coisa... Foi, enfim, uma sessão de meia hora de absurdos, falácias e abuso explícito de autoridade, para demonstrar que ninguém está livre de ser ludibriado, nem que seja por alguns minutos.
O preço da sanidade é mesmo a eterna vigilância (parafraseando o Carlos Miraglia, no mêiquinhófe de hoje).
No programa de hoje dissecamos a radiodramatização orwelliana da última segunda-feira, revelando seus segredos mais profundos, mas profundos mesmo, muito além das metáforas e das paráforas - a "hermenêutica", enfim - do 1º de abril.
E, para encerrar, uma coisa muito séria:
- Museum of Hoaxes: Top 100 April Fools' Day hoaxes of all time
- 10 Funny April Fools' Pranks -- Web Style
(*) Vide o famoso debate eleitoral de 1989 - também aqui.
4 comentários:
Antes de ouvir o programa de 1/4, eu procurara no Google por "hermenêutica". A palavra existe e se refere a um campo de conhecimento legítimo. "Gravitação quântica"? Existe também.
Eu estava de início desconfiado pela estranheza do título e pela data, mas a busca no Google e a autoridade e a seriedade esperada do programa me fizeram baixar totalmente a guarda, levantada novamente só depois de dez ou quinze minutos de besteirol. E, apesar de ter ouvido todos os episódios de todas as temporadas e ter como favoritos os que tratam do pós-modernismo, nada me fez lembrar do título do artigo do Sokal.
Será que alguém "comprou" a tetracroma(n)cia como meio de enxergar além das três dimensões do universo comum? Aquilo foi demais até para quem estava impregnado de credulidade.
O programa foi basicamente um degradê onde fomos so suspeito até o ultrajante. A ideia era fazer o ouvinte notar antes do derradeiro fim. Sinceramente acho que tetracromacia (ou mais especificamente a ornitologia multidimensional ) menos absurda do que os espelhos do Carlos Miraglia. :-)
Eu achei genial! Sinceramente, exige um certo talento manter um fluxo constante de coisas sem sentido por tanto tempo sem gaguejar, e sem rir, claro.
Eu orgulhosamente percebi a pegadinha nos primeiros momentos, quando "hermenêutica transformativa" foi proferida pela primeira vez. Quase engasguei no café.
Eu ouço enquanto trabalho (desenho) e nesse dia tava bem desesperada com o prazo e enquanto ouvia pensava "nossa, não tô prestando atenção mesmo". Quando ia chegar na vinheta final, já tava pensando em ouvir denovo no caminho de casa, pq né...
Mas fiquei feliz quando ouvi as gargalhadas.
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