sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Marcelo Gleiser: A difícil condição humana

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Reproduzo abaixo um texto do Marcelo Gleiser publicado inicialmente na Folha de São Paulo e depois no Jornal da Ciência, da SBPC. Eu recomendo o Dragão na Garagem para uma análise dos filmes que o Marcelo menciona. Dica do Orlando Peres.



Por que o esoterismo pesudocientífico faz tanto sucesso?


Marcelo Gleiser é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA) e autor do livro "A Harmonia do Mundo". Artigo publicado na "Folha de SP":

Queremos saber mais do que podemos ver". Assim escreveu o filósofo francês Bernard Le Bovier de Fontenelle, em 1686. Seu livro tratava da possível existência de seres extraterrestres, à luz do conhecimento científico da época. Naquele mesmo ano, Isaac Newton, na Inglaterra, publicou o livro em que apresentou as leis de movimento e da gravitação.

A realidade física passou a ser explicável a partir de equações determinísticas. Duas massas se atraem com uma força que age à distância.

Newton não arriscou uma explicação para o misterioso fenômeno gravitacional: como massas se atraem sem se tocar? Forças invisíveis permeavam o espaço, a realidade estendendo-se além do que podemos ver. A ciência explicava e criava mistérios.

Numa recente visita ao Brasil, inúmeras pessoas me perguntaram o que achava do filme "Quem Somos Nós?" ou dos livros de Amit Goswami e o absurdo "O Segredo". Todos oferecem uma visão alternativa ao materialismo comumente associado à ciência. Tudo é consciência, diria Goswami, e matéria e mente são manifestações dessa consciência.

Se você pensar positivamente sobre sua vida, as coisas mudarão, mesmo que você não faça nada, aprendemos em "O Segredo". Gostaria que todos os moradores da Rocinha imaginassem um cheque de um milhão de reais chegando para cada um na semana que vem.

A realidade é produto de nossas mentes e pode ser alterada, vemos em "Quem Somos Nós". No filme, aprendemos mecânica quântica com o espírito de Ramtha, um guerreiro de Atlântida que viveu há 35 mil anos. Talvez as pessoas devessem ser informadas que a maioria da equipe responsável pelo filme é devota de Ramtha. O filme é propaganda para essa seita esotérica.

Os "especialistas" entrevistados são irrelevantes academicamente. Li na contracapa do livro de Goswami que ele é "um dos físicos mais importantes da atualidade". Absolutamente falso. A credibilidade da ciência é manipulada para convencer as pessoas da importância das novas revelações e dos novos "profetas".

Por que esse esoterismo pseudocientífico faz tanto sucesso? O que as pessoas procuram nesses livros e filmes? Se seguirmos a história da ciência e sua relação com a religião, vemos que, após Newton, ficava difícil justificar a presença de um Deus onipresente em um mundo controlado por leis, equações e seleção natural.

Por outro lado, a ciência nada oferecia para alimentar a necessidade espiritual das pessoas. Como conciliar o materialismo científico com o ódio, o amor, a morte?

No início do século 20, a ciência mudou. A teoria da relatividade e a mecânica quântica redefiniram a realidade física, os conceitos de espaço, tempo e matéria. Apesar de essas teorias serem perfeitamente claras dentro de seu contexto, sua natureza filosófica, em particular, o papel do observador na prática científica, abre espaço também para especulações filosóficas, algumas iniciadas até por pioneiros da física quântica, como Heisenberg e Bohr.

A apropriação dessas teorias pelo esoterismo é inevitável. É fácil deturpá-las para afirmar que a nova ciência põe a consciência humana no centro do cosmo; que o indivíduo tem uma força que vai além de seu corpo; que nossas mentes são conectadas com o cosmo e suas forças ocultas; que somos muito mais do que aparentamos ser. Quem não quer ser mais do que é?

O sucesso do esoterismo pseudocientífico é reflexo da difícil condição humana, da dificuldade de sempre aceitar que somos seres limitados, com vidas finitas, num Universo que nada liga para nossa existência. E que temos de assumir a responsabilidade pelas nossas escolhas.
(Folha de SP, 11/11)

30 comentários:

Rodrigo Euzébio disse...

Olá Jeferson!

Estou colocando o texto do Gleiser aqui no Causarum Cognitio também, inspirado por sua postagem; espero que não se importe. Aliás, se o pessoal que posta coisa ruim e distorce a imagem da ciência não se cansa de fazê-lo, porque não espalhar coisas boas e bem escritas como o texto do Marcelo?! :)
Até a pŕoxima postagem! Nós do CC não deixamos passar nada que sai por aqui, mesmo porque quando o Coletivo não está inspirando, está ensinando!

Um grande abraço!

Anônimo disse...

veja mais textos do marcelo gleiser
http://marcelogleiser.blogspot.com/

Tiago "PacMan" Peczenyj disse...

As pseudociências não exigem 'calculos' como a ciência de fato. Vc não tem que fazer tanto esforço pois os conceitos geralmente são simples. Isso colabora.

Alessandro Moisés disse...

De certa forma, acho que a busca por explicações pseudocientíficas pode indicar que a população mal informada dá crédito à ciência e começa a deixar a religiosidade de lado.

O problema é que devido à ignorância científica, ela não sabe (ainda) distinguir o que é ciência pura e verdadeira, de falácia e sensacionalismo barato.

Espero que um dia, ela consiga separar o bom conhecimento científico do mal-caratismo e daí sim, encontrar explicações lógicas para suas dúvidas.

Jeferson Arenzon disse...

Parte também é culpa de quem faz ciência: poucos se ocupam em divulgá-la, em linguagem acessível, para o grande público. Essa foi uma das motivações em se criar este blog...

Jorge Quillfeldt disse...

Alessandro,

A expressão seria "Mau-caratismo", sem "l". Mas não é adequada. A maioria das pessoas que "segue" a lenga-lenga das pseudociências não o faz "por mal", o faz simplesmente porque não teve oportunidade de conhecer a "alternativa", ou melhor dizendo, a "matriz" (i.e., a Ciência) de onde surgiram essas cópias "mal-feitas" (agora sim, com "l").

Dizer que as pessoas são "ignorantes" coloca um carimbo na testa delas antes de dar-lhes chance de descobrir como o mundo de fato é. Nossa tarefa é a de Educadores, o que envolve paciência e perseverança, e sobretudo respeito pelas crenças das pessoas. Muito "céticos", por descuidar desse aspecto-chave no trato humano com as pessoas em geral, acabam fazendo um "mau" (com "u") serviço, não passando de arrogantes ou pedantes. E a arrogância tem poder de influência zero para mudar as coisas; neste caso, não é nem sequer nulo, é negativo: acabam dando razão aos espertos que se aproveitam das pseudociências para explorar a credulidade inata das gentes, que só é reforçada numa sociedade como a nossa, com baixa escolaridade, ensino de qualidade duvidosa e uma pobre cultura geral.

Estou analisando a tua frase para atingir vários seguidores e econtribuidores deste blogue que,
por vezes, se excedem, não é nada pessoal, tá bem?

Anônimo disse...

Chega a ser desesperadora a busca de um pessoa pela satisfação, ou por alguma cura, ou apenas para saber o sentido da vida.
Há um vazio no homem que o motiva a buscar satisfação plena, seja satisfação profissional, financeira, prazeres diversos.
E como muitos não conseguem tal satisfação buscam em outras coisas, tais como vícios diversos.

Sem querer convencer alguém aqui, mas gostaria de dizer que muitas pessoas se livram de diversos vícios quando entram em igrejas evangélicas.

Sabiam que há cada 100 drogados em crack, apenas 3 se recuperam... sabe quantos desses 3 só se livram só depois de frequentar uma Igreja evangélica? Todos, praticamente.

Se não temos um propósito de vida, porque buscamos um, a vida toda?

Anônimo disse...

Desculpe, reformulei minha pergunta:

Se a vida não tem um propósito além da pura e simples existência, por que buscamos um, a vida toda?

Marco Idiart disse...
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Marco Idiart disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marco Idiart disse...

Alo Israel

Até os 8 anos mais ou menos dizemos aos nossos filhos que Papai Noel existe e eles tiram grande felicidade disto. Papai Noel não existe mas conforta e traz felicidade.

Nós aqui somos cientistas, não estamos debatendo o que é melhor para o indivíduo acreditar para ser feliz. Desejams saber como é o universo onde existimos. E se a verdade angustia, o que se pode fazer?

É preferível ter entre nós viciados como Hamingway, ou Wilde, do que ter um monte de vaquinhas de presépio, dizendo amém e morrendo de felicidade.

É uma decisão difícil, mas acho que devemos optar pelo cérebro humano, seja quais forem as consequências nefastas.

Marco Idiart disse...

Falando em Papai Noel e, tendo em vista o maravilhoso texto nos indicado pelo Isreal no post anterior, sobre as limitações da aqueologia, acho que eu vou fazer o seguinte: Na próxima vez que a minha filha me perguntar sobre como o Papai Noel passa pela tela da janela, vou lhe explicar das limitações do uso da métrica no caso de situações natalinas. Talvez consiga estender sua crença do Papai Noel até os dezoito anos.

Jeferson Arenzon disse...

Israel,

O fato das pessoas buscarem algo, por mais incansável que a busca possa ser, não diz absolutamente nada sobre a existência desta coisa. Por exemplo, muitos ainda procuram o Eldorado, coisas interessantes foram achadas (o Salto Angel, por exemplo), mas isso não garante que o Eldorado exista. Viver a vida tentando dar um significado a ela, todos fazemos: significa aproveitá-la. Isso é diferente de "procurar" um significado. Devemos ser humildes, somos apenas poeira cósmica, não temos uma "utilidade", não fomos "feitos" para um propósito, nossa vida não precisa ter um significado. Mas mesmo assim, pode ser muito boa...

Anônimo disse...

Como disse, não quis convencer alguém aqui, apenas aproveitei o post para fazer um comentário a respeito do "propósito da vida".

Obviamente buscar por algo não indica que ela exista.

Eduardo Bezerra disse...

Olá, sou cientista da computação, acadêmico (professor e aluno de doutorado) e agnóstico. Acho que é o suficiente para me apresentar :)

Tentando voltar ao assunto do post, concordo com o amigo que disse ser uma boa coisa as pessoas procurarem explicações científicas para o sobrenatural, ainda que a validade dessas explicações seja bastante questionável. (A aula de língua portuguesa que se seguiu foi bastante pertinente ao assunto também :)

Quanto ao lance do Papai Noel, não há prova alguma de que ele não exista :), embora "saibamos" disso. Pra mim, como agnóstico, a absoluta negação da existência de qualquer divindade é tão nefasta quanto (ou mais que!) a fé cega. Cheira-me a arrogância e a preguiça de buscar respostas.

Pra mim, esse assunto deveria ser estudado de maneira séria e com experimentos que buscassem respostas mais objetivas.

Jeferson Arenzon disse...

Olá Eduardo,

Um ateu não é uma pessoa que diz que o deus X não existe, mas sim alguém que, baseado na ausência de evidências concretas (e não concretas), diz que não acredita em sua existência. O mesmo argumento vale para o Papai Noel. É baseando-se em evidências que as crianças, lá pelos 8 anos, chegam sozinhas à conclusão que é difícil acreditar nele. Algumas crianças tiveram uma experiência pessoal mais profunda com Papai Noel, que elas consideram como evidência da existência, e levam um tempo maior para concluir isso. Mas "evidência" tem um significado preciso, não podemos alterar isso para poder encaixar nossas "verdades"...
abs,

Eduardo Bezerra disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Eduardo Bezerra disse...

Aí é que tá, Jeferson. Não existem evidências, ou ainda não somos capazes de detectá-las? Há 500 anos atrás, tu diria que não há evidências para a existência de partículas sub-atômicas? Sem falar que tem muito religioso que afirma ter "evidências" da existência de alguma forma de divindade. E aí? Eles estão simplesmente falando abobrinha ou nós é que estamos ignorando isso com base num preconceito?

E obrigado por me dar a definição de ateu, mas eu já conhecia :) Em momento algum, eu disse que "ateu nega a existência de Allah".

Jeferson Arenzon disse...

oi Eduardo,

"Não existem evidências, ou ainda não somos capazes de detectá-las?"

Somente "temos" evidências a partir do momento que as detectamos. No momento, não temos evidências para uma hipótese tão fantástica (as evidências, obviamente, devem escalar com o que elas querem demonstrar). Há 500 anos não tínhamos evidências da existência nem de átomos. Quanto às evidências listadas pelos religiosos, temos que discutí-las uma a uma, mas verás que não seguem o padrão de evidência em uso em ciência.

Mas meu ponto ao definir ateísmo era fazer notar que os ateus (eu incluído) não dizem que deus não existe, mas sim que não acreditam na existência, dada a ausência de evidências. Obviamente, a ausência de evidências não é evidência da ausência, mas serve para quantificar a probabilidade de existência.

Além disso, o ônus de apresentar evidências não é dos ateus...
abs,

Eduardo Bezerra disse...

"mas serve para quantificar a probabilidade de existência"

Isso é uma das coisas que mais me revolta, mas talvez seja questão de ponto de vista. Pra mim não há como quantificar a probabilidade de existência de coisa alguma, nem mesmo o que você vê. E não, não estou de falando da Matrix :), mas de Renée Descartes.

Só que nem precisa ir tão longe pra ver que a tua frase (que é bem repetida, e por isso estou combatendo) foi precipitada. Já que tu pode "quantificar" (analisar e exprimir com precisão) essa probabilidade, quanto seria?

Jeferson Arenzon disse...

Eduardo,

Quantificar significa colocar uma escala, que pode ser simplesmente "pequeno, médio, grande" ou o refinamento que se quiser, ou conseguir. Por exemplo, baseado nas evidências que acumulaste toda a tua vida, consegues quantificar a probabilidade de Papai Noel, ou a fada dos dentes, existir? Vejamos. Há muitos PN evidentemente falsos, os prometidos presentes são todos facilmente explicados por pais atenciosos que os compram, há um grupo com grandes interesses em manter a iconografia natalina, etc. Do ponto de vista teórico, entregar presentes a todas as crianças do mundo envolve algumas contradições com a ciência que conhecemos (a menos, como sugeriu o Marco, desconfiemos da nossa métrica). Juntando isso tudo, eu concluo que a probabilidade de PN existir é ínfima. Isso eu chamo quantificar, estimar, etc. Quando vais atravessar a rua, quantificas, intuitivamente, a probabilidade de chegares vivo ao outro lado e toma uma decisão baseada nisso. O mesmo vale para PN. O mundo que eu vejo é absolutamente compatível com a sua inexistência. Para acreditar na sua existência, eu precisaria de uma evidência bastante convincente. Basta repetir o exercício para o deus, deusa ou alienígena da tua escolha.
abs,

Eduardo Bezerra disse...

Entendo teu argumento, Jeferson, mas para chegar a uma contradição quanto à existência do PN, temos que partir de uma série de pressupostos:

1.Ele distribui presentes para todas as crianças que se comportaram bem durante o ano (e não todas, você não lembra mais de sua infância? :)

2.Tudo isso é feito em 24 horas.

3.Ele usa uma roupa vermelha e anda num trenó (que não sofre atração gravitacional) puxado por renas voadoras.

As características dele tiveram que ser muito bem definidas para que pudéssemos verificar que contrariam a nossa ciência. Tu poderia fazer o mesmo com o deus cristão, ou o muçulmano, ou o judaico, e poderia até dizer (baseado no pressuposto de que nossos sentidos, instrumentos e conhecimento são suficientes para perceber completamente a realidade) que dá pra quantificar como pequena a probabilidade de um deus desse existir.

A questão é que, se tu, como um cientista, estás investigando a existência (e buscando definir as características) de alguma coisa, tal como uma divindade, tu parte do ponto em que não há conhecimento, mas praticamente apenas perguntas. E tu não pode refutar uma pergunta, mesmo que tu queira muito muito muito muito, mesmo que tu fique brabo (e nesse caso o Papai Noel não te traria presentes no Natal :)

Jeferson Arenzon disse...

oi Eduardo,

Eu nunca ganhei presentes de natal, não por não ter me comportado, mas por ser judeu. E como todos sabemos, o messias ainda não veio. :-)

Eu não estou investigando a existência de deus. Não estou tentando provar que ele não existe. Não acho a sua existência improvável baseada na ciência, mas sim nos horrores que vejo ao meu redor. O mundo é exatamente como eu imagino que seria se estivéssemos tomando as decisões que afetam nosso destino (e dos outros).

E como eu disse, esse ônus não é meu...
abs,

Eduardo Bezerra disse...

Eu sou apenas um goyim não digno da Terra Prometida, mas é claro que ele veio! Tá escrito na Bíblia, ué! :)

Mas, enfim, eu prefiro viver na dúvida do que acreditar em qualquer coisa que não me convença. E, como eu ainda tenho saco pra isso, continuo buscando repostas.

Dra. Manhattan disse...

Eduardo,

Eu digo que sou atéia por não considerar a hipótese de que exista(m) deus(es). Por que isso? Porque não faz diferença na minha vida.
Já me declarei agnóstica por um tempo, mas como não acho que a hipótese de existir um (ou mais) SS(s) seja comprovável direta ou indiretamente, rejeitei a hipótese em si, buscando respostas sem recorrer a ela.

Eduardo Bezerra disse...

Soh. Na real, tu continua sendo agnóstica, porém agnóstica ateísta. Já eu sou true-agnostic-heavy-metal-head-banger ;)

E a propósito, Paukowski? Tu também é judia? Vcs prometem não atirar pedras em mim se eu andar de carro no Shabatt? :P

Anônimo disse...

Jeferson,

Tomando com base no Deus da Bíblia (mais exatamente o cristão).

Ele não é como o ladrão que invade, Ele é gentil, vem e "bate a porta".
Se tu não convidá-Lo para participar da tua vida, Ele não virá. Enquanto tu creres que Ele não existe ou não se importar com a existência d'Ele, Ele não se manifestará em sua vida.

Então, por isso tu não possui provas disso.

Temos uma questão sem solução?

Bom, segundo a própria Bíblia, Ele disse que era para fazer prova d'Ele, em outras palavras, diga a Ele que se Ele existe, mostre para ti que Ele existe, faça-Se presente!

Como Ele é onipresente, podes fazer isso em qualquer lugar, qualquer hora... sem ninguém por perto.

Não é gozação! O que eu acabei de falar é pregado dentro de igrejas.

Jeferson, se for do teu interesse, faça prova do Deus da Bíblia.
Quer saber se Ele existe, pergunte tu mesmo para Ele.

Jeferson Arenzon disse...

Israel,

O que estás fazendo é pregação. E esse é um blog de ciência, então te peço para refletir antes de escrever comentários como esse último. É irrelevante o que se diz numa igreja. Não se qualifica como argumento científico, mas sim religioso.

O teu argumento vale para o Papai Noel também? Por que não? Não é gozação. Como se distingue, objetivamente?
j.

Anônimo disse...

ahahahah! Fala para eu não fazer mas continua a discussão... claro Jef!

Se aplica ao que tu quiser! A diferença é que pode dar ou não resultado =)

E tu não questionou a Bíblia? Apenas estou explicando.
Tu não questionou a existência de Deus? Apenas estou dando uma resposta possível.

Não somos livres? Realmente livres? Pense a respeito...

Unknown disse...

A discussão sobre a crença no Atomismo é interessante: o Atomismo, desde o tempo dos gregos ou mesmo antes, é uma crença filosófica e, ao mesmo tempo, uma teoria científica não testável na época (para desespero dos Popperianos).

Quais são as primeira evidências científicas do Atomismo? Com Dalton em 1808? Bom, eu sei que as evidências "diretas" ou "conclusivas" só foram dadas em 1912 por Perrin:

http://www.sciencedirect.com/science?_ob=ArticleURL&_udi=B6V70-4T7W3JK-1&_user=10&_rdoc=1&_fmt=&_orig=search&_sort=d&_docanchor=&view=c&_searchStrId=1148215615&_rerunOrigin=google&_acct=C000050221&_version=1&_urlVersion=0&_userid=10&md5=55f3b73e47d317ce6398ab6743cb4d48

Então, enquanto eu defendo que o Ateísmo é a posição filosófica menos problemática (mais compatível) com nosso conhecimento atual, acho que é necessário reconhecer que certos argumentos em defesa do ateísmo não são logicamente válidos. Usando o exemplo do Atomismo, qualquer cético do Atomismo até 1808 poderia afirmar que:

1. Não existia nenhuma evidencia experimental a favor do Atomismo.
2. O ônus da prova caberia aos Atomistas.
3. A teoria atômica (da época) tinha inúmeros defeitos e contradições.
4. Ao longo do século XIX, havia na verdade evidencias empíricas e anomalias contra o Atomismo (por exemplo, os cálculos de mecanica estatistica - que eram baseados no atomismo - levavam a previsões erroneas para o calor específico de gases diatomicos.
5. Eu imagino que Mach, que era o principal físico anti-atomista, poderia inventar um monte de piadinhas sobre os átomos, comparando-os aos duendes invisíveis de Papai Noel.
6. Mach também faria comentários sobre como os Atomistas eram irracionais (por manterem crenças na ausencia de evidencias ou na presença de contradições experimentais).

Ou seja, acho que o Ateismo precisa desenvolver melhor argumentos que não sejam igualmente aplicáveis contra o Atomismo pré 1808. Talvez enfatizar que, assim como o Atomismo pré-1808, o Teismo é filosofia e não ciência. E reconhecer que o Ateismo também é, em sua raiz profunda, uma posição filosófica (afinal, o Ateismo "científico" só seria estritamente válido após Darwin colocar a Seleção Natural como alternativa ao argumento de Designio de Paley).

Acho que por vezes falta clareza neste debate, por falta de entendimento sobre as relações entre filosofia e ciência:

1. Eu posso ter crenças não-científicas (crenças filosóficas) sem que isso implique que eu seja irracional ou dogmático: os Atomistas pré-1808 e os Ateístas pré-1859 não eram irracionais ou dogmáticos. A filosofia é uma atividade racional não-científica.
2. O fato de eu acreditar fortemente que uma tese esteja correta (ou mesmo o fato de que ela esteja correta) não implica que todo argumento em sua defesa seja válido ou que, reconhecer isso, implica em "fornecer munição" ao campo adversário.
3. Concordo com Quillfeldt. Chamar as pessoas de "ignorantes", "estúpidas" ou "incultas" não é um argumento (ad-hominen nunca é argumento!) e não deveria ser usado por educadores que visam aumentar a aceitação da ciência e dos cientistas na sociedade. Equivale ao pessoal de Humanidades herdeiro da Contracultura ficar chamando os cientistas de "positivistas", "tecnocratas" ou "empregadinhos do capitalismo", o que pode até ser verdade, mas não constituí um argumento em um debate sobre a natureza do universo.