quarta-feira, 22 de julho de 2009
O Eclipse do Mal
Mais um eclipse do Sol ocorreu, deterministicamente, hoje, como vem ocorrendo desde a formação da Lua. Eclipses são eventos previsíveis, calculados com muita antecedência, de enorme fascínio e beleza. Observar, seguramente, um eclipse total é um evento. Astronômico, diga-se de passagem, e não traz nenhuma implicação (além das horas gastas ali) à nossa vida cotidiana. Porém, existem países onde a vida das pessoas é fortemente regulada por mitos pré-medievais, há muito tempo reprovados pelo duro teste da realidade. Por exemplo, nesta matéria* sobre o eclipse de hoje, vemos exemplos disso: mulheres adiando a cesariana para outra data, previsões de atentados e catástrofes, etc. Mas o eclipse veio e foi e nada não usual aconteceu. Claro, em algum lugar deve ter ocorrido um atentado, uma catástrofe natural, um problema no parto. Se não ocorreu durante o eclipse, mais cedo ou mais tarde vai acontecer, e sua causa será, certamente, creditada ao eclipse total do Sol. Aqui vemos um dos princípios gerais das pseudociências em ação: sucessão temporal implicando em relação causal. É mais ou menos como dizer que pão induz à violência, pois 90% ou mais dos atos violentos foram cometidos por pessoas que comeram pão no dia anterior.
Porém existe uma maneira rigorosa que permite dizer, com um grau bem determinado de confiabilidade, quando há uma relação causal ou não. Esse método se chama ciência. E o teste final é sempre a dura prova da realidade, frente à qual as teorias devem ser humildes. Esse teste nunca é feito pelos proponentes e seguidores da astrologia (embora vários experimentos, todos negativos, tenham sido feitos nos últimos tempos). As previsões são feitas, encontram espaço fácil em jornais e na internet, mas depois dos eventos, ninguém se preocupa em confrontá-las. Na notícia acima, por exemplo, somente na última linha se menciona que o eclipse é somente um fenômeno natural, e dedica o resto do espaço à alucinações anacrônicas (mas comparem com o original e vejam quais trechos foram cortados). Não se tenta qualificar a informação, contextualizá-la no corpo de conhecimento acumulado pela humanidade, dizer o que acham os astrônomos e cientistas. Ou seja, não se educa. Sem falar nos riscos envolvidos, como nesse casamento recomendado por um astrólogo (podia, pelo menos, ser com uma árvore!).
Isso me leva ao que eu considero A pergunta sobre astrologia: de onde veio o conhecimento astrológico? Quem, ou o que, disse que o signo X, e não o Y, se comporta da maneira A? Sim, claro, se perdeu essa informação. Então porque não se faz novamente?
(Sarcasm on) Por via das dúvidas, vou escolher o momento de colocar esse post. (sarcasm off)
* Link enviado por Leticia Pettenuzzo
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9 comentários:
Realmente lamentável, neste caso temos dois problemas, o misticismo e o péssimo exemplo de jornalismo da metéria citada. A matéria original já dedicava mais espaço ao exoterismo que ao esclarecimento e, para piorar, a versão brasileira do sítio retirou justamente as poucas linhas que traziam um pouco de luz ao assunto. Claro, o fatalismo supersticioso deve atrair mais cliques...
Pessoal,
Mandem um representante para o II EWCLIPO, em Arraial do Cabo:
http://comciencias.blogspot.com/2009/07/blogueiros-cientificos-se-reunirao-em.html
E fica a idéia de vocês organizarem o III EWCLiPo aí no Sul...
Caros,
Vão no link http://olhometro.com/2009/04/06/astrologia-se-voce-nao-acredita-e-porque-ainda-nao-sabe-o-suficiente/
Apareceu num blog que é ligado ao Yahoo e escrito por uma jornalista (ou estudante de jornalismo, não sei ao certo), o que, para mim, demonstra claramente o grau de alfabetização científica da nossa elite intelectual brasileira (quem estuda jornalismo no Brasil faz parte da elite, goste-se ou não).
Um abraço!
Oi Osame,
Passei para o pessoal, vamos ver se alguém se anima a ir.
Abs,
Jeferson
Daedalus,
Deixei a seguinte resposta lá:
Eu recomendo esse breve vídeo do James Randi fazendo exatamente a mesma tua experiência, mas com várias pessoas:
http://www.youtube.com/watch?v=3Dp2Zqk8vHw
Elas também se identificaram com o mapa astral. Isso acontece porque evoluímos para identificar padrões, coincidências, etc, reforçando positivamente essas experiências, o que aumentava nossa chance de sobrevivência. Para dizer se a astrologia funciona ou não, um teste deve então minimizar esse efeito (por via de duplo cego). Isso já foi feito várias vezes: não funciona.
http://skeptico.blogs.com/skeptico/2007/06/testing-astrolo.html
e outros textos aqui:
http://skeptico.blogs.com/skeptico/astrology/
Abs,
Jeferson
Caro Jeferson,
Muito bom deixar a resposta com indicação de algo do James Randi, mas eu acho que a destinatária da mensagem nem vai querer ouvir: ela, assim como a maioria das pessoas, quer acreditar em qualquer coisa mágica ou extraordinária ou espiritual ou sei lá... Os seres humanos parecem ter evoluído também com uma propensão a acreditar. E isso parece fazer diferença: epidemiologicamente falando, parece que pessoas com crenças religiosas vivem em média mais que pessoas que não tem crenças (mas, é claro, as coisas não são tão simples assim: http://www.davidmyers.org/Brix?pageID=52 ...).
Um abraço (e parabéns pelo blog)!
lembrei de uma boa lendo o eclipse do mal:
adocante engorda: todos os gordos usam adocante enquanto os magros
usam acucar !
esse tipo de coisa acontece muito em pesquisa medica. e deve tambem
acontecer em fisica e astronomia e a gente nao se dah conta :-)
abraco,
Antonio Kanaan
Bah, esse tipo de coisa sempre me passa pela cabeça quando leio pesquisas nessas áreas...
Em medicina, por exemplo, deve ser meio complicado isolar certos efeitos, características... tipo, tu quer determinar quais os efeitos de determinado tipo de substância analisando cobaias submetidas à ingestão dessa substância, e outras não. Têm muiiita coisa que pode interferir nos resultados...
Não que não tenha como isolar dentro do possível e do necessário, mas "sempre" fica a dúvida...
Tipo, eu não poderia dizer que cigarro é saudável pq "meu avô tem 80 anos, nunca teve câncer e fumou a vida inteira"...
Exatamente. Teu exemplo mostra a necessidade do grupo de controle: sem o cigarro, quantos anos teu avô viveria? É difícil eliminar os múltiplos efeitos, por isso o progresso científico às vezes é lento...
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