sábado, 20 de outubro de 2012

A era das máquinas livres

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Autora: Tatiana Pereda (fonte)

Um novo compasso econômico mundial está sendo criado com o uso de tecnologias livres e baratas: o surgimento de uma economia colaborativa.

O movimento "Faça Você Mesmo" saltou das tarefas domésticas para os laboratórios de pesquisa. E o salto foi impulsionado pelos mesmos motivos: economizar dinheiro e obter exatamente o resultado que você deseja. Antes existia uma crença dominante de que, para que a sociedade pudesse realmente usufruir de avanços tecnológicos, as invenções devem ser cercadas de segredos e limitações; ou seja, acreditava-se que a disseminação do conhecimento e/ou suas aplicações práticas deveriam necessariamente sofrer restrições, uma forma de obscurantismo, para que a sociedade tivesse maiores benefícios. Esta crença, aos poucos, está sendo derrubada. Aliás, para Joshua Pearce, físico formado pela Universidade da Pensilvânia, o "faça você mesmo científico" está dando espaço a algo maior que uma nova maneira de pensar, este está dando lugar à uma revolução.


Três forças convergentes, todas de código aberto (open-source), estão por trás dessa reviravolta, explica o pesquisador em um artigo publicado no número mais recente da revista Science: software, impressoras 3D e microcontroladores. Com essas ferramentas, pesquisadores de todo o mundo estão reduzindo o custo de fazer ciência, construindo seus equipamentos no próprio laboratório.

Arduíno

Tudo está sendo possível graças ao microcontrolador open-source Arduíno (veja aqui também).

"A beleza desta ferramenta é que é muito fácil de usar," disse Pearce, que é professor da Universidade Tecnológica de Michigan. "Ela torna muito simples a tarefa de automatizar processos.", diz Pearce.

Funciona mais ou menos assim: o Arduíno - que é vendido por menos de R$100 no varejo - pode controlar qualquer instrumento científico, seja um contador Geiger, um osciloscópio ou um sequenciador de DNA. Mas ele realmente brilha quando controla impressoras 3D, tais como a também de hardware aberto RepRap.

Esta engenhoca do tamanho de um forno de micro-ondas pode ser construída por menos de R$1.000, e pode construir suas próprias peças - uma vez que você tenha uma RepRap, você poderá construir tantas quantas queira. O laboratório de Pearce já tem cinco.

Podendo construir uma cópia dela mesma, impressoras 3D constroem objetos lançando camadas de plástico com espessura abaixo de um milímetro, umas sobre as outras, seguindo padrões específicos. Isso permite aos usuários construir equipamentos segundo suas próprias especificações, não ficando mais dependentes do que podem comprar no mercado. O Arduíno controla o processo, dizendo à impressora 3D para fazer qualquer coisa, de um trem de brinquedo a um macaco de laboratório - não o animal, mas aquele equipamento de levantar coisas.

O professor Pearce precisou de um em seu laboratório e, ao saber que o equipamento custaria milhares de dólares, resolveu projetar o seu próprio. Postou então em comunidades interessadas em códigos-abertos, onde os membros seguidores da poítica do "faça você mesmo" puderam compartilhar seus projetos e também opinar no protótipo de Joshua, este recebeu feedbacks para aprimorar seu próprio produto.


Economia de Doação

"Os movimentos do software livre e do hardware livre estão criando uma economia das doações. Nós pagamos para a comunidade submetendo nossos projetos, e recebemos pagamentos de volta na forma de um excelente feedback e acesso livre ao trabalho de outras pessoas. Quanto mais você dá, mais você recebe, e todos ganham nesse processo," disse ele. A comunidade Thingiverse já tem uma linha completa de projetos com código-fonte aberto para mais de 30 mil protótipos criados e é tudo barato, o que traz em si a emergência desse novo compasso econômico.

Pearce relata que agora está ajudando seus estudantes a organizarem uma empresa cujos objetivos serão fazer projetos de código e hardware abertos para a indústria e construir instrumentos de laboratório sob medida para professores universitários, fornecendo tudo pronto por uma fração do custo dos equipamentos comerciais. "Isso dará aos alunos as competências de que necessitam e lhes permitirá beneficiar toda a sua área de pesquisas," disse ele.

A verdade é que a ciência e a educação, antes do que qualquer outro setor, tem muito a ganhar com a utilização de tecnologias livres como esta pois vivem um grande conflito por estar lidando com ferramentas cujos funcionamentos estão obscuros - o que é um contrassenso.

Transformação na Eduçação

Se a iniciativa se disseminar, milhares ou milhões de dólares que são gastos pelos laboratórios de pesquisa em todo o mundo para comprar equipamentos, agora poderão ser usados para dar apoio aos alunos. Mesmo escolas de ensino médio poderão ter recursos para bons laboratórios de ciências. Mais pesquisas poderão ser financiadas com menos recursos, levando a mais descobertas.

"Usando hardware livre economizamos milhares de dólares para o nosso grupo de pesquisa, e estamos apenas esquentando os motores. Isso vai mudar a maneira como as coisas são feitas. Não há como parar essa mudança" afirma Pearce.

Referências

Pezzi, R.; Pereda, T. - A Emergência das Tecnologias Livres
Inovação Tecnológica - A era das máquinas livres
Pierce, J.M., "Building Research Equipment with Free, Open-Source Hardware", Science 337 (2012) 1303

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