quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Terremotos e alinhamentos planetários

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Um terremoto pode ter várias causas, todas relacionadas a uma enorme liberação de energia: movimentos nas falhas geológicas, atividade vulcânica, grandes explosões, deslizamentos, etc. Uma rápida abordagem foi feita no "Fronteiras da Ciência" (S02E13, ver também os Cadernos de Estudos). Estima-se que mais de 1000 terremotos ocorram diariamente (500.000 no ano todos, 100.000 dos quais são fortes o suficiente para serem percebidos). Infelizmente não existem fenômenos precursores que permitam a previsão de terremotos, mesmo assim alguns cientistas italianos estão sendo julgados por homicídio culposo durante o terremoto que atingiu Aquila em 2009. Mas o que não faltam são teorias pseudocientíficas, procurando achar correlações (na falta de uma teoria ou uma relação causal) que permitiriam prever tais fenômenos. Um exemplo foi a mal sucedida previsão de um terremoto devastador em Roma no dia 11/5/2011.



Outro caso é o de Omerbashich, que propõe que os grandes terremotos são provocados quando há um alinhamento entre planetas do nosso Sistema Solar. O Arxiv é um repositório consagrado de artigos, principalmente em Física, submetidos para serem distribuídos gratuitamente antes de serem publicados em revistas com árbitros. Há um processo de filtragem (uns chamam de bom senso, outros de censura), mas algumas coisas passam. Os artigos de Omerbashich são um exemplo. Em geral, tais trabalhos são desconsiderados, mas às vezes algum cientista se dá ao trabalho de responder.


Foi o que aconteceu com Omerbashich. Damian Zanette, físico do Centro Atômico Bariloche, publicou uma resposta, bastante divertida. Basicamente Damian mostra que, só em 2010, tivemos alinhamentos do tipo usado por Omerbashich em 360 dos 365 dias do ano, o que realmente nos dá uma correlação enorme entre tais alinhamentos e terremotos. Mas como todos sabe, correlação não implica causação, e, portanto, o poder explanatório da teoria de Omerbashich é tão grande quanto o da teoria de que pão é a causa dos homicídios, pois 99% dos homicidas comeram pão no dia anterior aos crimes.

Boa leitura!

8 comentários:

Chico disse...

Vou fazer uma pergunta ingênua sobre previsão de terremotos.

Suponho (ou li ou vi em algum lugar, não lembro) que grandes terremotos ocorrem quando uma porção grande do solo (em terminologia leiga) se move abruptamente pela liberação de uma grande quantidade de energia acumulada na elasticidade do solo ao ser pressionado pelo movimento relativo das placas tectônicas ou acumulada em rochas liquefeitas sob pressão (deve haver aí algum tipo de elasticidade envolvida também), no caso de ação vulcânica. Em ambos os casos, parece-me que os terremotos seriam precedidos por aumentos de pressão em camadas profundas do solo. Se não estou muito errado até agora, poder-se-ia concluir que sensores de pressão introduzidos profundamente no solo dos locais de risco perceberiam o aumento gradual de pressão que precede o rompimento abrupto. Qual é a falha da minha hipótese?

Jeferson Arenzon disse...

Chico,
Não sou especialista em terremotos, mas arriscaria a dizer que esse processo ocorre em escalas espaciais e temporais bem longas, o que tornaria o aumento da pressão algo difícil de notar. Além disso, o ponto de ruptura não ocorre em um valor bem determinado. Assim, o único indício de que algo vai ocorrer próximo à uma falha seria o tempo passado desde o último terremoto. Mas, repito, isso é só meu palpite...
Abs,

Fernando Lang da Silveira - Instituto de Física - UFRGS disse...

A propósito desse tema respondi uma questão originalmente postada no Yahoo Respostas. Vide:

http://www.if.ufrgs.br/cref/?area=questions&id=127

Abraços

Fernando

Jeferson Arenzon disse...

Ela deve ser poderosa mesmo Nicole, para fazer milagres retroativos, pois que eu saiba há muito tempo não temos terremotos importantes... :-)

Chico disse...

Agradeço pala resposta, Jeferson. Acho que as dificuldades apontadas por ti são mesmo cruciais.

Marco Idiart disse...

Oi Chico

Eu veria duas dificuldades. Uma primeira seria onde colocar os sensores. As placas se extendem por milhares de kilometros e se tocam a grandes profundidades. Sendo elas irregulares, é dificil achar os pontos de pressão.

Mas mais importante que isto é o que o Jeff disse. Já sabemos que a pressão esta sempre aumentando. O que não sabemos é o valor de pressão para a liberação da energia elástica. Como cada vez que ocorre uma destas liberações as placas por serem irregulares formam um novo contato, a pressão crítica é sempre uma incognita.

Silva Mestiço da, disse...

Vó Rosa! Hehehehehe. Para quem acredita que só nos EUA se criem essas bobagens! Essa é 100% nacional!

Atila Vasconcelos disse...

Chico, Marco e Jeferson,

sem contar a questão da profundidade... tenho a impressão de que lí em algum lugar que o recorde de profundidade de uma broca no solo é dos russos; e parece que a coisa não passa muito dos 12Km de profundidade... depois desse ponto as brocas derretem.

ps.: achei isso aqui, procurando rapidamente na grande rede:

http://en.wikipedia.org/wiki/Kola_Superdeep_Borehole