Conheça, então, um fenômeno fascinante e ainda não explicado, o "blup!". Um som natural gravado por microfones submarinos em altas profundidades no Oceano pacífico em 1997, cuja representação espectral aparece na figura acima, onde o eixo horizontal representa o tempo, a altura do som aparece no eixo vertical e o volume é representado pelo brilho. É um som semelhante a vocalizações feitas por organismos vivos, mas o maior mistério está no seu volume, que é muitas vezes maior que o mais intenso som produzível por um animal, no caso, o som da baleia azul, que, porém, parece não ser suficientemente grande para tanto.
Escute-o aqui, nas diferentes versões:
- Bloop.wav: versão não-filtrada e reproduzida 16X mais rápido que o real, conforme aparece na página do NOAA;
- Bloop_nr.wav: o mesmo arquivo filtrado para reduzir o ruído;
- Bloop_realtime.wav: este é o som realmente registrado, em tempo real (2,5MB). Tenha paciência, é um som de baixíssima frequência... mas pode se arrepiar!
- Bloop_realtime_nr.wav: versão filtrada do registro em tempo real, que fica ainda mais estranha... (não será uma espaçonave decolando?)
O Blup! foi detectado diversas vezes na costa sul da América do Sul e, apesar de audível, sua origem foi estimada como estando a cerca de 5000 Km do local de registro! Desde 1997 nenhum Blup! foi ouvido novamente, embora outros som intensíssimos tenham sido encontrados, entre eles, o Boing, identificado, posteriormente, como produzido por baleias minke. Alguns desses registros, cujos nomes (dados pelo NOAA) são inspiradores, continuam inexplicáveis. Veja seu registro na página do NOAA sobre fumarolas submarinas (hydrothermal vents):
Frequency (0-->50 Hz) | |||
Frequency (0-->40 Hz) |
Claro que a frustração de alguns que mencionei acima é apenas um ponto de vista, pois o conhecimento científico acerca das coisas pode produzir tanto maravilhamento quanto a contemplação inerme do "inexplicável". E isso não é tudo. Ao sabermos mais, enxergamos mais longe e descobrimos que há muito mais por saber. Mistérios não faltarão, não se preocupem. O que a ciência e seu método sepultaram foi a mera apreciação apática e impotente, reino daqueles que se contentam em conformar-se. Como bem disse Thomas Huxley - o "buldogue" de Darwin:
"O que devemos, então, à Ciência? Devemos o fim do fanatismo histérico, da ignorância que nos deixava passivos e inertes diante das calamidades, descarregando sobre a ira divina a causa de nossas próprias desgraças. À Ciência devemos isso e muito mais. E, no entanto, ela é algo de muito simples, de austero, de maravilhosamente frugal. Ela é feita de verdades, e as verdades são quase sempre lineares, esqueléticas, às vezes pobremente vestidas"Saiba mais sobre sons sinistros de origem desconhecida:
http://www.science.org.au/nova/newscientist/102ns_001.htm
http://www.damninteresting.com/the-call-of-the-bloop
http://www.bloopwatch.org/thebloop.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Bloop
5 comentários:
Puxa, até me emocionei. Bom post Jorge. Abração.
Eu estou louco ou existe algo parecido com uma musiquinha instrumental de fundo bem baixinha no começo de bloop_nr.wav?
O "bloop" lembra o som de uma bolha subindo à superfície, talvez a razão do nome onomatopéico. Logo, pela teoria da complexidade sonora irredutível, só podemos concluir que o som provém de uma entidade inteligente, sendo provavelmente o resultado da flatulência de Poseidon.
Falando seriamente agora, já ouvi várias vezes essa crítica de que a ciência destrói os belos mistérios. Acho que o que falta pra esse pessoal não é mistério, mas curiosidade e um pouco de inteligência, pois sequer procuram saber como funcionam um motor a combustão, um telefone celular ou uma lâmpada - mistérios do seu cotidiano. Acho que o que assusta essa gente é saber que existem mistérios resolvidos cuja solução supera sua capacidade de entendimento.
e isso é uma família de respeito, os Huxley ...
o neto do buldogue (seria filho?) é o Aldous, aquele de "admirável mundo novo", um livro do começo do século passado, que até hoje é atual/
abraços
Aldous é neto de Thomas e irmão de Julian. veja aqui:
http://en.wikipedia.org/wiki/Huxley_family
Falando em mistérios, lembrei-me da Duga (arco, em russo) -- uma tranqueira da era soviética usada para detectar mísseis -- que poluía o espectro eletromagnético, mais especificamente em "ondas curtas". Lembro de ter escutado "batidas" no rádio diversas vezes ao sintonizar algumas estações, e só fui descobrir do que se tratava mais de vinte anos após.
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