segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Uma versão troiana de "A Origem das Espécies" ?

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Umberto Eco contruiu seu fabuloso romance "O Nome da Rosa" (uma boa leitura está aqui), publicado em 1980, a partir de uma imagem que o fascinava: "a imagem de um monge envenenado enquanto lia um livro na biblioteca". A idéia é recorrente na literatura, mas trago-a aqui como metáfora para o mundo real: é possível editar uma versão envenenada de um livro outrossim impecável?

Bem, uma nova edição de "A Origem das Espécies" de Darwin está a ser distribuída gratuitamente nas principais universidades norteamericanas e canadenses. Detalhe: contém uma pequena e inocente "introdução" de 54 páginas escrita pelo promotor da idéia, Ray Comfort. Criacionista, por supuesto.

A analogia com um troiano também é válida.

A denúncia aparece nesta página do NCSE - Centro Nacional pela Educação Científica, que inclusive oferece divertidíssimos marcadores de páginas para imprimir e distribuir JUNTO com o livro (inseridos à página 59, recomenda-se), além de dois excelentes textos-antídoto (de uma ou quatro páginas - o segundo é o melhor) e uma análise mais detida, tentando, assim, desfazer algo do
presente estrago.

A estratégia era distribuí-lo em todo o país ao mesmo tempo, no dia 19/11, mas com a movimentação cética em marcha, resolveram tudo mudando a data para o dia anterior (veja a "explicação oficial"...).

Ray Comfort é ministro evangélico e se dedica a "massacrar" os críticos ateus e/ou científicos da bíblia. Tem um blogue engraçadíssimo (leia alguns 'causos' aqui) e conseguiu inclusive manipular a classificação desse mesmo livro no site da Amazon onde seu cavalo de tróia chegou a aparecer acima da edição de aniversário de 150 anos! (o problema já foi resolvido, e aquele endereço comercial está, agora, crivado de alertas céticos - vale a pena ler alguns).

Risadas à parte, qual será o impacto pedagógico de mais esta ação obcurantista? Quanto tempo até vermos os resultados?

E quanto tempo até aparecer um infeliz que a traduza e distribua por aqui?

Na dúvida, passe os olhos pelo çáitchi abaixo...

Fonte: Pharyngula

5 comentários:

Sandi disse...

nossa, que idéia brilhante...

afinal, por que perder tempo escrevendo um livro unicamente a respeito das próprias crenças/idéias quando se pode simplismente lançar uma "nova edição" do objeto da crítica??


será que a autora de "O Segredo" se importaria? =)

Sandi disse...

ops...
tinha um fechamento de tag "ironia" depois de "...critica??"

não aparece... ¬¬

Jeferson Arenzon disse...

Comfort é famoso pelo hilariante argumento-tiro-no-pé da banana. Uma análise está aqui (em inglês):

http://www.youtube.com/watch?v=soMzhH7s35Q

Na tal introdução à Origem foram detectados vários fragmentos plagiados, inúmeros erros, sem falar que a primeira versão que eles fizeram não continha alguns capítulos importantes. Honestidade intelectual é para os fracos...

Jorge Quillfeldt disse...

Jef,

O Este comentário de um guri sueco de 24 anos é um pouco menos rápido de ler/ver, mas, quiçá, mais esclarecedor acerca do famoso argumento da banana - o "pesadelo dos ateus", segundo Comfort. Leiam também o primeiro comentário após o texto, que descreve a variedade particular de banana usada pelo pregador...

O debate ficou mais "profundo" quando Comfort entrou a discutir a evolução da reprodução sexuada: um resumo da idéia está nesse cartum.

Outro episódio divertido envolvendo esta criatura foi o "desafio" a um debate com Richard Dawkins oferecendo-lhe 10 mil dólares. Dawkins topou, mas apenas se fosse 100 mil... a oferta final parou em 20 mil...

Aiás, o próprio Comfort acabou tendo de se retratar dessa pérola argumentativa...

Pois é, minhas férias terminaram hoje.

Jorge Quillfeldt disse...

E já que estamos nesta linha, quem conhece o argumento do vidro de manteiga de amendoim?

Claro, afinal, a "evolução" é impossível...